O futebol na música popular brasileira


Leia e ouça, ainda, aquele refrão que não sai dos estádios e outras importantes canções esquecidas pelo gosto popular.

Tão nossos quanto próximos são a música e o futebol brasileiros. Identificados com o modo brasileiro de ser, eles têm também um desenvolvimento histórico semelhante. É no mesmo período em que ambos começam a se difundir no Brasil, na chamada “era de ouro do rádio” (década de 1930), que levou para dentro da casa do brasileiro aquilo que ele mais gosta em matéria de entretenimento. No final dos anos 1950, música e futebol voltam a partilhar um momento histórico, ao se tornarem reconhecidos no exterior: a Seleção Brasileira ganhando o bicampeonato mundial e a Bossa Nova disputando os primeiros lugares nas paradas de sucesso internacionais.

É possível afirmar que essa relação íntima se estenda até os dias de hoje, impulsionada pelo mercado que se beneficia dessa vantajosa relação.  Como afirma o jornalista Beto Xavier, conhecido por suas pesquisas e sua paixão por música e futebol, , “tanto o futebol quanto a música são também poderosos instrumentos de ascensão social, porque, além de estarem no centro de nossa cultura, representam aquilo que sabemos fazer de melhor”. Em outubro de 2004, o jornalista já tinha compilado mais de 500 canções que se referem ao futebol. 

Em sua tese de doutorado apresentada à Escola de Comunicação e Artes da USP, o pesquisador Sérgio Miranda Paz faz um rico levantamento dessas composições, classificando-as em 10 categoriais. 

Nas páginas a seguir, você encontra alguns exemplos recordados pelo pesquisador, conhece um pouco da história dessas composições e de seus autores, os diversos ritmos musicais que homenageiam o futebol e tem uma retrospectiva histórica das músicas que marcaram as diversas Copas do Mundo. Leia e ouça, ainda, aquele refrão que não sai dos estádios e outras importantes canções esquecidas pelo gosto popular.   


O maior espetáculo esportivo do mundo vira refrão

Há muito tempo grandes eventos esportivos têm sido fonte de inspiração para compositores. Nesse sentido, a Copa do Mundo não poderia passar em branco. Criadas geralmente para animar a torcida, as canções marcam as competições e podem ser relembradas por muitos anos, eventualmente com alguma alteração na letra. Veja:
 
1x0 (Pixinguinha e Benedito Lacerda) 
Instrumental, teve inspiração na sofrida vitória do Brasil sobre o Uruguai (1x0 na prorrogação) na final do Campeonato Sul-Americano de 1919. Mais de 70 anos depois, em 1993, a canção ganhou letra de Nelson Ângelo, que fala de Futebol, mas não faz referência ao jogo que a inspirou.


Assista 

Copas do Mundo


Copa 38

Paris 
(Alberto Ribeiro / Alcyr Pires Vermelho)
Nas duas Copas (1938 e 1998) em que a França sediou o evento foram ouvidas a canção, primeiro na voz de Carmen Miranda e depois na de Elba Ramalho.   


Ouça trecho 


Copa 50

Touradas em Madri
 (Braguinha / Alberto Ribeiro)
Marchinha originalmente composta para o carnaval de 1938 e interpretada por Carmen Miranda e Almirante, foi entoada pelos 200 mil torcedores presentes no estádio do Maracanã durante a partida Brasil 6x1 Espanha

Ouça


Copa 58
A taça do mundo é nossa
 (Wagner Maugeri / Maugeri Sobrinho / Vitor Dagô / Lauro Müller)
Canção composta após a primeira vitória brasileira, na voz do grupo de cegos Titulares do Ritmo, e faz sucesso até hoje.

Ouça 


Copa 70

Prá frente, Brasil
 (Miguel Gustavo)
Embalou a torcida pelo tricampeonato, no México. Hoje é considerado um símbolo da Ditadura Militar.


Ouça 

Sou tricampeão (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
Homenagem à vitória brasileira, foi composta após o título, mas caiu no esquecimento.

Copa de 82

Voa, canarinho
 (nome original Povo feliz, composta por Nonô / Memeco)
Interessante caso em que um jogador, o lateral Júnior, gravou disco com a canção, que teve sua venda aumentada pela “sambadinha” que o jogador deu na comemoração do gol que marcou no jogo contra a Argentina.


Ouça

Meu canarinho (Luiz Ayrão / S. Conceição)
Apesar da derrota da Seleção Brasileira para a Itália, na Espanha, a canção foi um sucesso.

Assista


Copa de 86

Mexe coração
 (Michael Sullivan / Paulo Massadas)
Música interpretada pela desconhecida Turma da Seleção, fez sucesso na televisão   

Ouça

70 Neles (Antônio Edgard Gianullo / Vicente de Paula Salvia)
Composta por encomenda da Rede Globo, na voz de Gal Costa, não emplacou após a seleção brasileira ser desclassificada pela derrota para a França nos pênaltis, nas quartas de final.


Assista 


Copa 94

Coração verde-amarelo
 (Aldir Blanc e Tavito)
Desde esse ano, a canção tem sido intensamente utilizada pela Rede Globo, não só por ocasião das Copas, mas também nas chamadas e anúncios de transmissões de jogos, tornando-se uma espécie dejingle do Futebol na emissora


Ouça 


Copa 98

Apita logo, seu juiz
 (Alexandre Pires / Lourenço)
Ano sem grandes composições, teve esta versão gravada pelo grupo Só Pra Contrariar, que não chegou a embalar a competição.   

Ouça


Copa 2002  
 
Deixa a vida me levar
 (Zeca Pagodinho)

Para a copa dessa ano não ouve uma composição significativa a respeito do futebol, mas essa foi a musica que embalou os torcedores durante a competição.



Ouça trecho

Copa 2006

Balé de Berlim 
(Gilberto Gil)
Mantendo a tradição de composições para a Copa que não caem no gosto popular, o compositor e então Ministro da Cultura cria esta canção sob encomenda para propaganda da Aracruz, que explora grandes atletas brasileiros.


ouça 

*As informações desta matéria foram baseadas na tese de doutorado “Futebol como patrimônio cultural do Brasil: estudo exploratório sobre possibilidades de incentivo ao turismo e ao lazer”, do pesquisador Sérgio Miranda Paz, apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências da Comunicação.

A bola rola em todos os ritmos

A qualidade da música e do futebol brasileiro não encontra limites. Talvez por isso haja tantos exemplos de música dedicada ao esporte nacional. O levantamento abaixo é apenas um pequeno passeio nos mais diversos estilos de canções que foram dedicadas ao futebol. Confira:

Erudita
Santos Football Music
 (Gilberto Mendes) 
Música instrumental, inspirada no time de Pelé e composta pelo músico e professor universitário Gilberto Mendes, rendeu ao compositor o prêmio de melhor obra experimental em 1974 pela a Associação Paulista de Críticos de Arte.

Assista 


Samba

Na cadência do samba (Luiz Bandeira)
Canção originalmente instrumental que faz apologia ao samba, acabou se tornando um ícone para o Futebol. Ainda é executada durante as narrações de jogos por algumas emissoras de rádio. Foi gravada por estrelas da música como Elizeth Cardoso e Daniela Mercury após ganhar letra.


Ouça 
 
Replay (Conhecida como O meu time é a alegria da cidade, de Jon Lemos / Roberto Correa) 
Utilizada como fundo musical da narração de gols, estourou na década de 1970 com o disco Trio Esperança. Ganhou versão moderna na voz de Happing Hood.

Ouça


O campeão, meu time (Neguinho da Beija-Flor)
O compositor, um autêntico representante do samba atual, tem sua música cantada por todas as torcidas.

Ouça 


Conversa de botequim (Noel Rosa / Vadico)
Mesmo o carioca que dizia não gostar de futebol se rendeu às graças do esporte compondo um dos sambas mais bonitos da música popular brasileira, que retrata muito bem o casamento boteco-futebol .


Ouça

País tropical (Jorge Benjor)
Grande sucesso na voz de Wilson Simonal, este samba-rock foi incluído no disco oficial da Copa do Mundo da França de 1998 com interpretação de Daniela Mercury.


Assista

O Futebol (Chico Buarque)
Na canção, o compositor escala hipoteticamente o ataque de seus sonhos, formado pelos seus ídolos Garrincha, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro.

Ouça

Bossa Nova

Falando de Amor 
(Tom Jobim)
Até os representantes do “um banquinho, um violão” mencionaram sua paixão pelo esporte brasileiro.


Ouça

Tropicalismo 

CD Novos Baianos Futebol Clube (Grupo composto por Moraes Moreira, Galvão, Pepeu Gomes e Baby Consuelo) 

Embora as músicas do compacto não façam referência direta ao futebol, o disco que deu início ao novo estilo musical faz alusão ao esporte devido às inspiradoras partidas no sítio onde o grupo vivia.


Meio de campo (Elis Regina) 
A canção faz uma citação a Afonsinho, jogador dos anos 1970 que se destacou por sua postura de reivindicação pelos direitos dos atletas.

Assista

Pop-Rock

É uma partida de Futebol 
(Samuel Rosa) 
A vibrante canção é um dos símbolos mais jovens do amor ao esporte.
Trecho: bola na trave não altera o placar / bola na área sem ninguém pra cabecear / bola na rede pra fazer o gol / quem não sonhou em ser um jogador de Futebol? / ... / que coisa linda é uma partida de Futebol!

Assista

Assim como o Futebol, a música popular brasileira (MPB) urbana tem suas origens na segunda metade do século XIX, com a modinha e o maxixe, gêneros que foram muito explorados até por alguns compositores clássicos, como Carlos Gomes e Heitor Villa Lobos. Coincidentemente, Charles Miller, o “pai” do futebol no Brasil, era casado com Antonieta Rudge, que, com Magdalena Tagliaferro e Guiomar Novaes, formou o trio das maiores pianistas brasileiras do século XX.


As informações desta matéria foram baseadas na tese de doutorado “Futebol como patrimônio cultural do Brasil: estudo exploratório sobre possibilidades de incentivo ao turismo e ao lazer”, do pesquisador Sérgio Miranda Paz, apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências da Comunicação.
A musa inspiradora

Incluso no cotidiano do brasileiro, o futebol se transformou em uma espécie de "musa inspiradora" para diversos compositores brasileiros. Nas canções abaixo é possível ver como os hinos dos clubes são apenas o ponto de partida dessas composições musicais, que não deixam de fora nem os dirigentes. Há ainda quem discuta qual o time que mais recebeu homenagens.

Clubes

Não há uma regra geral que defina a forma como uma música se torna o hino de um clube. Geralmente, ele é feito sob encomenda. Há casos, porém, de canções que, feitas sem essa pretensão, acabam caindo no gosto dos torcedores, e tomam o lugar do hino oficial.

Além dos hinos, muitas outras canções foram compostas em homenagem a clubes, especialmente aos mais populares, manifestando a paixão de seus compositores. Disputam a liderança da lista dos mais homenageados o Flamengo e o Corinthians. Veja algumas dessas canções:

Corinthians 


Amor branco e preto
 (Rita Lee / Arnaldo Batista)
A homenagem, composta em 1972 e interpretada pelos Mutantes, é uma redenção ao sofrimento da torcida do timão.

Ouça

 

Transplante de corinthiano (L.Gentil / M.Ferreira / R.Amaral)
O apresentador Silvio Santos, que gravou diversas marchinhas de carnaval e estourou com esta homenagem ao time, regravou a canção em 2010 para o centenário do time.

Ouça


Flamengo

Memória de um torcedor 
(Wilson Batista)
A sofrida derrota do time para o Botafogo rendeu o samba que virou bordão da torcida.

Ouça

Samba rubro-negro (Wilson Batista / João Nogueira) 
Tornou-se canção de sorte do time nas vitórias consecutivas de 1953, 1954 e 1955. João Nogueira deu nova cara à música em 1981, trocando os jogadores para “Zico, Adílio e Adão”.

Ouça

Raros são os compositores de hinos conhecidos também por suas composições em outros gêneros musicais. A mais notável exceção é Lamartine Babo, talentoso compositor carioca, autor de inúmeros sucessos como marchinhas de Carnaval (O teu cabelo não nega, de 1932; Linda morena, de 1933), valsas (Eu sonhei que tu estavas tão linda, de 1941), sambas-canções (Serra da Boa Esperança, de 1937; No rancho fundo, com Ary Barroso, de 1931) e marchas juninas (Chegou a hora da fogueira, de 1933; Isto é lá com Santo Antônio, de 1934).

Torcedor do América, Lamartine é o autor dos hinos dos principais clubes do Rio de Janeiro, lançados em 1943 em seu programa "Trem da Alegria", da Rádio Nacional. Atribui-se ao autor 13 hinos, entre eles do América, Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama.

Algumas das canções até ganham releituras modernas, dentro do pop rock ou mesmo em versões instrumentais, mas as gravações tradicionais (remasterizadas) continuam dominando.

Ouça outros hinos de futebol 


Jogadores


Não é de se estranhar que o grande homenageado do esporte tenha sido Pelé. Até o grande instrumentista norte-americano Dizzie Gillespie prestou tributo ao Rei do Futebol. Nenhuma delas, porém, pode ser considerada um grande sucesso até hoje. Até o ilustre jogador se arriscou em composições sobre o futebol, que também não emplacaram, mesmo na voz de grandes intérpretes como Ney Matogrosso (Eu sou assim) e Elis Regina (Perdão não tem e Vexamão).

Nesta categoria, no entanto, vale a pena citar duas canções que homenagearam jogadores, pelo sucesso que fizeram e pela polêmica que causaram.

Balada n.7 (Alberto Luiz)
Foi considerada uma homenagem ao jogador Garrincha (informação não confirmada pelo autor), ao retratar com poesia a dura realidade do jogador que se retira dos gramados e é esquecido pela torcida.


Ouça


Fio Maravilha (Jorge Benjor)
Vencedora da fase nacional do Festival Internacional da Canção de 1972, na interpretação de Maria Alcina, era uma homenagem ao jogador Fio, do Flamengo. Mas tarde foi alterada para Filho Maravilha por problemas de direitos autorais.

Ouça

Dirigente

Troca-troca (Jorge Benjor)
Canção que homenageia um dirigente de um clube rival ao do compositor flamenguista, o ex-presidente do Fluminense, Francisco Horta.


Ouça

*As informações desta matéria foram baseadas na tese de doutorado “Futebol como patrimônio cultural do Brasil: estudo exploratório sobre possibilidades de incentivo ao turismo e ao lazer”, do pesquisador Sérgio Miranda Paz, apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências da Comunicação.

Nenhum comentário:

FREE WORLDWIDE SHIPPING

BUY ONLINE - PICK UP AT STORE

ONLINE BOOKING SERVICE