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A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. [2] Com as palavras do próprio Adorno, podemos compreender o porque das suas reflexões acerca desse tema.
Theodor Wiesengrund-Adorno, em parceria com outros filósofos contemporâneos, estão inseridos num trabalho muito árduo: pensar filosoficamente a realidade vigente. A realidade em que vivia estava sofrendo várias transformações, principalmente, na dimensão econômica. O Comércio tinha se fortalecido após as revoluções industriais, ocorridas na Europa e, com isso, o Capitalismo havia se fortalecido definitivamente, principalmente, com as novas descobertas cientificas e, conseqüentemente, com o avanço tecnológico. O homem havia perdido a sua autonomia. Em conseqüência disso, a humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. Em outras palavras, poderíamos dizer que o nosso caro filósofo contemplava uma geração de homens doentes, talvez gravemente. O domínio da razão humana, que no Iluminismo era como uma doutrina, passou a dar lugar para o domínio da razão técnica.  Os valores humanos haviam sido deixados de lado em troca do interesse econômico. O que passou a reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade. Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso filósofo, é o fruto de toda essa Indústria Cultural. Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais.  Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema. O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema. É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A Indústria Cultura, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – que aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”. O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher. É a lógica do clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam. Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural. Toda vida torna-se replicante. Dizem os autores: Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva(ADORNO & HORKHEIMER, 1997:119).
Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia.  Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer exemplificam este fato através do episódio das Sereias da epopéia homérica. Ulisses preocupado com o encantamento produzido pelo canto das sereias tampa com cera os ouvidos da tripulação de sua nau. Ao mesmo tempo, o comandante Ulisses, ordena que o amarrem ao mastro para que, mesmo ouvindo o cântico sedutor, possa enfrentá-lo sem sucumbir à tentação das sereias. Assim, a respeito de Ulisses, dizem os autores:  O escutado não tem conseqüências para ele que pode apenas acenar com a cabeça para que o soltem, porém tarde demais: os companheiros, que não podem escutar, sabem apenas do perigo do canto, não da sua beleza, e deixam-no atado ao mastro para salvar a ele e a si próprios. Eles reproduzem a vida do opressor ao mesmo tempo que a sua própria vida e ele não pode mais fugir a seu papel social. Os vínculos pelos quais ele é irrevogavelmente acorrentado à práxis ao mesmo tempo guardam as sereias à distância da práxis: sua tentação é neutralizada em puro objeto de contemplação, em arte. O acorrentado assiste a um concerto escutando imóvel, como fará o público de um concerto, e seu grito apaixonado pela liberação perde-se num aplauso. Assim o prazer artístico e o trabalho manual se separam na despedida do antemundo. A epopéia já contém a teoria correta. Os bens culturais estão em exata correlação com o trabalho comandado e os dois se fundamentam na inelutável coação à dominação social sobre a natureza (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:45).  É importante frisar que a grande força da Indústria Cultural se verifica em proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas necessidades básicas para se viver dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente). Com isso, o consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir e o campo de consumo se torna cada vez maior. Tal dominação, como diz Max Jimeenez, comentador de Adorno, tem sua mola motora no desejo de posse constantemente renovado pelo progresso técnico e científico, e sabiamente controlado pela Indústria Cultural. Nesse sentido, o universo social, além de configurar-se como um universo de “coisas” constituiria um espaço hermeticamente fechado. E, assim, todas as tentativas de se livrar desse engodo estão condenadas ao fracasso. Mas, a visão “pessimista” da realidade é passada pela ideologia dominando, e não por Adorno. Para ele, existe uma saída, e esta, encontra-se na própria cultura do homem: a limitação do sistema e a estética. Na Teoria Estética, obra que Adorno tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá ele que não adiante combater o mal com o próprio mal. Exemplo disso, ocorreram no nazismo e em outras guerras. Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita. Além disso, para Adorno, a Indústria Cultural não pode ser pensada de maneira absoluta: ela possui uma origem histórica e, portanto,  pode desaparecer. Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.
 Por Daniel Ribeiro da Silva
EXERCICIOS
  1. UEL 2013.
  1. UEL 2013. Leia o texto a seguir.
O modo de comportamento perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas, é desconcentração. Se os produtos normalizados e irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas particularidades surpreendentes, não permitem uma audição concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes de uma audição concentrada. Não conseguem manter a tensão de uma concentração atenta, e por isso se entregam resignadamente àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o ouvem sem atenção excessiva.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p.190. Coleção Os Pensadores.)
As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memorização e com forte apelo à cultura de massa.
A respeito do tema da regressão da audição na Indústria Cultural e da relação entre arte e sociedade em Adorno,assinale a alternativa correta.
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de que a música tornou-se um produto de consumo, encobrindo seu poder crítico.
b) A música representa um domínio particular, quase autônomo, das produções sociais, pois se baseia no livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabelecer um vínculo entre arte e sociedade.
c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade de manifestar criticamente conteúdos racionais expressos no modo típico do comportamento perceptivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida para a apreciação da música é uma exigência extramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente mais próxima da desconcentração.
e) Audição concentrada significa a capacidade de apreender e de repetir os elementos que constituem a música, sendo a facilidade da repetição o que concede poder crítico à música.
3. Leia o texto de Adorno a seguir.
            Se as duas esferas da música se movem na unidade da sua contradição recíproca, a linha de demarcação que as separa é variável. A produção musical avançada se independentizou do consumo. O resto da música séria é submetido à lei do consumo, pelo preço de seu conteúdo. Ouve-se tal música séria como se consome uma mercadoria adquirida no mercado. Carecem totalmente de significado real as distinções entre a audição da música “clássica” oficial e da música ligeira.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: BENJAMIN, W. et all. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Adorno, é correto afirmar:
a) A música séria e a música ligeira são essencialmente críticas à sociedade de consumo e à indústria cultural.   
b) Ao se tornarem autônomas e independentes do consumo, a música séria e a música ligeira passam a realçar o seu valor de uso em detrimento do valor de troca.   
c) A indústria cultural acabou preparando a sua própria autorreflexividade ao transformar a música ligeira e a séria em mercadorias.   
d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram transformadas em mercadoria com o avanço da produção industrial.   
e) As esferas da música séria e da ligeira são separadas e nada possuem em comum.   
4. Texto
“Se você é o que você come, e consome comida industrializada, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão.
O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do milho distribuído no mundo.
(Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira combustível. Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desenvolvimento do capitalismo e a indústria cultural, considere as afirmativas.
I. O capitalismo contemporâneo tornou a globalização um fenômeno que intensificou a padronização e a homogeneização como formas de reprodução técnica criadas a partir da revolução industrial.
II. A abertura comercial dos portos das colônias americanas resultou no cercamento dos campos, facilitando o comércio pelo acúmulo de capitais e, em consequência, a revolução industrial.
III. A crítica filosófica à instrumentalização cultural constata que o predomínio da racionalidade técnica permitiu o resgate do potencial emancipatório da razão sonhado pelo projeto iluminista.
IV. Com o avanço tecnológico, a racionalidade técnica penetra todos os aspectos da vida cotidiana, subjugando o homem a um processo de instrumentalização cultural e homogenização de comportamentos.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.   
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.   
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.   
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.   
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.   
5.  Com base no pensamento estético de Adorno e Benjamin, considere as afirmativas a seguir.
I. Apesar de terem o mesmo ponto de partida, a saber, a análise crítica das técnicas de reprodução, Adorno e Benjamin chegam a conclusões distintas. Adorno entende que a reprodutibilidade das obras de arte é algo negativo, pois transforma esta última em mercadoria; para Benjamin, apesar de a reprodutibilidade ter aspectos negativos, uma forma de arte como o cinema pode ser usada potencialmente em favor da classe operária.
II. Para Adorno, o discurso revolucionário na arte torna esta forma de expressão humana instrumentalista, e isto significa abolir a própria arte. Por seu turno, Benjamin considerava que os novos meios de comunicação não deveriam ser substituídos, mas sim transformados ou subvertidos segundo os interesses da comunicação burguesa.
III. Para Adorno, a noção de aura na obra de arte preservava a consciência de que a realidade poderia ser melhor, mas o processo de massificação da arte dissolveu tal noção e, com ela, a dimensão critica da arte. Para Benjamin, a perda da aura destruiu a unicidade e a singularidade da obra de arte, que perde o seu valor de culto e se torna acessível.
IV. Adorno vê positivamente a reprodutibilidade da arte, já que a obra de arte se transforma em mercadoria padronizada que possibilita a todos o acesso e o desenvolvimento do gosto estético autônomo; para Benjamin, a reprodução tem como dimensão negativa essencial o fato de impossibilitar às massas o acesso às obras.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.   
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.   
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas.   
d) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.   
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.   
  GABARITO
1SALA 2A 3D 4 B 5 B





STF decide por unanimidade que sistema de cotas é constitucional

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta-feira por unanimidade que o sistema de cotas raciais em universidades é constitucional. O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, iniciou seu voto --o último dos ministros-- por volta das 19h30, antecipando que acompanha o voto do relator Ricardo Lewandowski.
O julgamento, que terminou por volta das 20h, tratou de uma ação proposta pelo DEM contra o sistema de cotas da UnB (Universidade de Brasília), que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e pardos.
Ayres Britto disse durante o voto que os erros de uma geração podem ser revistos pela geração seguinte e é isto que está sendo feito.
Em um voto de quase duas horas, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou ontem (25) que o sistema de cotas em universidades cria um tratamento desigual com o objetivo de promover, no futuro, a igualdade.
Para ele, a UnB cumpre os requisitos, pois definiu, em 2004, quando o sistema foi implantado, que ele seria revisto em dez anos. "A política de ação afirmativa deve durar o tempo necessário para corrigir as distorções."
Luiz Fux foi o segundo voto a favor das cotas raciais. Segundo Fux, não se trata de discriminação reservar algumas vagas para determinado grupo de pessoas. "É uma classificação racial benigna, que não se compara com a discriminação, pois visa fins sociais louváveis", disse.
A ministra Rosa Weber também seguiu o voto do relator. Para ela, o sistema de cotas visa dar aos negros o acesso à universidade brasileira e, assim, equilibrar as oportunidades sociais.
O quarto voto favorável foi da Ministra Cármen Lúcia, que citou duas histórias pessoais sobre marcas deixadas pela desigualdade na infância.
Em seu voto, o ministro Joaquim Barbosa citou julgamento da Suprema Corte americana que validou o sistema de cotas para negros nos Estados Unidos, ao dizer que o principal argumento que levou àquela decisão foi o seguinte: "Os EUA eram e continuam a ser um país líder no mundo livre, mas seria insustentável manter-se como livre, mantendo uma situação interna como aquela".
Peluso criticou argumentos de que a reserva de vagas fere o princípio da meritocracia. "O mérito é sim um critério justo, mas é justo apenas em relação aos candidatos que tiveram oportunidades idênticas ou pelos menos assemelhadas", disse. "O que as pessoas são e o que elas fazem dependem das oportunidades e das experiências que ela teve para se constituir como pessoa."
O ministro Gilmar Mendes também votou pela constitucionalidade das cotas em universidades, mas fez críticas ao modelo adotado pela UnB. Ele argumentou que tal sistema, que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e pardos, pode gerar "distorções e perversões".
Celso de Mello disse, durante seu voto, que ações afirmativas estão em conformidade com Constituição e com Declarações Internacionais subscritas pelo Brasil.
Marco Aurélio Mello também seguiu o relator e votou pela constitucionalidade do sistema de cotas. Dias Toffoli não participou do julgamento por ter dado um parecer no processo quando era da Advocacia-Geral da União.

A questão da negritude no Brasil

                                                                                                         

53,5% dos negros brasileiros já estão na classe média


Pesquisa do economista da FGV Marcelo Neri também mostra que 47,3% dos mestiços pertenciam às classes A, B e C em 2008
Mais da metade dos negros brasileiros, e pouco menos da metade dos mestiços (pardos), pertencem hoje à classe média, incluindo a classe C, a nova classe média popular.
Segundo recente levantamento do economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais (CPS), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 53,5% dos negros e 47,3% dos mestiços no Brasil pertenciam às classes A, B e C em 2008. Entre negros e mestiços juntos, 48% são de classe média, e 52% estão nas classes D e E, mais características da pobreza. Os porcentuais incluem também os muito ricos, mas que são estatisticamente pouco significantes.
Esses números, tirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostram uma grande evolução nos últimos 15 anos. Em 1993, menos de um quarto dos negros (23,8%) e pouco mais de um quinto dos mestiços (21,7%) pertenciam às classes A, B e C. Tomados em conjunto, apenas 22% dos negros e mestiços estavam na classe média, com quase 80% nas classes D e E.
Os números de Neri revelam que, desde 1993, a proporção de negros e mestiços nas classes A, B e C cresceu cerca de 110%, enquanto a dos brancos expandiu-se em 42%. “Há uma melhora diferenciada dos negros e pardos na classe ABC, já que a proporção deles aumentou mais do que a dos brancos”, observa Neri.
André Urani, sócio do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), e diretor do Instituto Natura, tem dados que mostram que a proporção de negros e mestiços, nos últimos 15 anos, cresceu bem mais entre os mais ricos do que entre os mais pobres. Assim, houve um salto de 74%, de 1993 a 2008, na proporção de chefes de família negros e mestiços entre o 1% mais rico do Brasil, e hoje ela atinge 15%. Entre os 10% mais ricos, um em cada quatro chefes de família já é negro ou mestiço.
Para Urani, essa melhora relativa de renda de negros e mestiços se deu antes que a política de cotas pudesse fazer efeito. “Se, de fato, como parece, isso não se deve à política de cotas, então está aberto um campo gigantesco para se investigar as determinantes dessa trajetória e ter políticas públicas que a incentivem.”
Mesmo com o avanço de negros e mestiços, a sociedade brasileira ainda está muito longe de ser igualitária em grupos raciais. Os chefes de família negros e mestiços ainda correspondem a mais de 70% entre os pobres e indigentes, segundo a classificação de linhas de pobreza de Urani.
Os dados de Urani e Neri mostram, porém, que, apesar de a situação ainda permanecer ruim, é inegável a tendência de redução da desigualdade de renda de base racial na última década e meia. Hoje, o País já possui uma grande classe média não branca, com 45 milhões de pessoas.
Os dados da série da Pnad revelam que também houve, independentemente da renda, um expressivo aumento na proporção de negros e mestiços no total da população brasileira de 1993 a 2008, de 45% para 50,1% do total.
As possíveis explicações para essa mudança são uma maior disposição das pessoas se identificarem como não brancas (pretos e pardos, na terminologia oficial) nos questionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e um avanço real demográfico de negros e mestiços relativamente aos brancos. Especialistas em estudos raciais, como o economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acreditam que a causa pode ser uma combinação desses dois fatores.
Em todas as faixas de renda houve aumento da participação de negros e mestiços, já que eles cresceram bastante na população como um todo. Porém, quando se examina as mudanças na distribuição de negros e mestiços entre as faixas de renda, de 1993 a 2008, fica claro que aquele aumento foi proporcionalmente maior nas camadas mais ricas da população do que nas mais pobres.
Assim, em 1993, os chefes de família negros e mestiços representavam 68% do total abaixo da linha de indigência definida por Urani, o que subiu para 73% em 2008. O crescimento da fatia, de 8,3%, porém, foi bem menor do que o aumento na proporção total de chefes de família negros e mestiços naquele período, que foi de 23%. Já entre os riquíssimos (1% mais rico da população), a parcela de chefes de família negros e mestiços saiu de 8,8% para 15,3%, o que significa uma expansão de 74%.
Um aspecto importante da discussão é a questão do acesso, permanência e qualidade oferecida ao negro, no quesito educação. Uma vez que este é um verdadeiro caminho de superação de desigualdades, de formação de líderes, de rompimento de preconceitos e de construção de uma sociedade mais justa e igualitária em oportunidades. Assim segue abaixo uma tabela comparativa sobre raça e educação no Brasil.
A questão do “branqueamento da população
- Tentativa de “branquear” a população brasileira por meio da vinda de imigrantes europeus  na segunda metade do século XIX

EXERCÍCIOS
1. UFU. O movimento negro no Brasil, embora exista de fato desde a Colônia, teve seus avanços reais constituídos em políticas públicas a partir dos anos 1990. Sobre as bandeiras, ações afirmativas e conquistas deste movimento, é INCORRETO afirmar que:
A) tornaram possível a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.
B) pretendem contribuir para diminuir a distância socioeconômica entre negros e brancos no Brasil e um dos mecanismos para que isso ocorra é a instituição de cotas para negros na universidade.
C) relacionam-se a um movimento de políticas de identidade étnico-racial que denuncia a democracia racial brasileira como um mito.
D) pretendem indenizar economicamente os descendentes de escravos negros no Brasil.
2. UNESP. Entre as formas de resistência negra à escravidão, durante o período colonial brasileiro, podemos citar
(A) a organização de quilombos, nos quais, sob supervisão de autoridades brancas, os negros podiam viver livremente.
(B) as sabotagens realizadas nas plantações de café, com a introdução de pragas oriundas da África.
(C) a preservação de crenças e rituais religiosos de origem africana, que eram condenados pela Igreja Católica.
(D) as revoltas e fugas em massa dos engenhos, seguidas de embarques clandestinos em navios que rumavam para a África.
(E) a adoção da fé católica pelos negros, que lhes proporcionava imediata alforria concedida pela Igreja.
3.ENEM. A Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desenvolveu o projeto “Comunidades Negras de Santa Catarina”, que tem como objetivo preservar a memória do povo afrodescendente no sul do País. A ancestralidade negra é abordada em suas diversas dimensões: arqueológica, arquitetônica, paisagística e imaterial. Em regiões como a do Sertão de Valongo, na cidade de Porto Belo, a fixação dos primeiros habitantes ocorreu imediatamente após a abolição da escravidão no Brasil. O Iphan identificou nessa região um total de 19 referências culturais, como os conhecimentos tradicionais de ervas de chá, o plantio agroecológico de bananas e os cultos adventistas de adoração.
Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=14256&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia>. Acesso em: 1 jun. 2009. (com adaptações).

O texto acima permite analisar a relação entre cultura e memória, demonstrando que

(A) as referências culturais da população afrodescendente estiveram ausentes no sul do País, cuja composição étnica se restringe aos brancos.
(B) a preservação dos saberes das comunidades afrodescendentes constitui importante elemento na construção da identidade e da diversidade cultural do País.
(C) a sobrevivência da cultura negra está baseada no isolamento das comunidades tradicionais, com proibição de alterações em seus costumes.
(D) os contatos com a sociedade nacional têm impedido a conservação da memória e dos costumes dos quilombolas em regiões como a do Sertão de Valongo.
(E) a permanência de referenciais culturais que expressam a ancestralidade negra compromete o desenvolvimento econômico da região.

  1. ENEM. O tráfico de escravos em direção à Bahia pode ser dividido em quatro períodos:

1.o – O ciclo da Guiné durante a segunda metade do século XVI;
2.o – O ciclo de Angola e do Congo no século XVII;
3.o – O ciclo da Costa da Mina durante os três primeiros quartos do século XVIII;
4.o – O ciclo da Baía de Benin entre 1770 e 1850, estando incluído aí o período do tráfico clandestino.

A chegada dos daomeanos (jejes) ocorreu nos dois últimos períodos. A dos nagô-iorubás corresponde, sobretudo, ao último. A forte predominância dos iorubás na Bahia, de seus usos e costumes, seria explicável pela vinda maciça desse povo no último dos ciclos.
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos: dos
séculos XVII a XIX. Tradução de Tasso Gadzanis. São Paulo: Corrupio, 1987. p. 9. (com adaptações).

Os diferentes ciclos do tráfico de escravos da costa africana para a Bahia, no Brasil, indicam que

(A) o início da escravidão no Brasil data do século XVI, quando foram trazidos para o Nordeste os chamados “negros da Guiné”, especialistas na extração de ouro.
(B) a diversidade das origens e dos costumes de cada nação africana é impossível de ser identificada, uma vez que a escravidão moldou os grupos envolvidos em um processo cultural comum.
(C) os ciclos correspondentes a cada período do tráfico de diferentes nações africanas para a Bahia estão relacionados aos distintos portos de comercialização de escravos.
(D) o tráfico de escravos jejes para a Bahia, durante o ciclo da Baía de Benin, ocorreu de forma mais intensa a partir do final do século XVII até a segunda metade do século XVIII.
(E) a escravidão nessa província se estendeu do século XVI até o início do século XVIII, diferentemente do que ocorreu em outras regiões do País.

GABARITO
1D 2C 3B 4C




O BRASIL E SUAS VÁRIAS IDENTIDADES

                        I. Introdução

Para tentar entender a formação identitária do povo brasileiro, teremos de passar pelos tradicionais estudos de Antropologia, Sociologia e História, realizados sobre o tema, como nas vozes de Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, de Marilena Chauí em Mito Fundador e Sociedade Autoritária, além de Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala e de Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro. Para realizar e construir uma análise ampla do “ser brasileiro”, e tentar, no mínimo, levantar algumas hipóteses quanto à construção de uma identidade brasileira, procurei mesclar grande parte desses estudos, promovendo um diálogo entre as obras cânones da brasilidade e complementando-as com as minhas perspectivas quanto ao tema.  
Para efeito de conseguir uma boa compreensão do texto, sistematizei o trabalho, dividindo-o em três partes – Introdução, em que será tratada a metodologia do trabalho; Aquarela do Brasil, em que dissertarei sobre a presença das três principais etnias responsáveis pela construção do povo brasileiro; e O ser brasileiro, em que tentarei levantar algumas hipóteses sobre a identidade brasileira. 

II – Aquarela do Brasil

A formação do povo brasileiro começa, obviamente, com a chegada dos portugueses no Brasil no início do século XVI. Naquele momento, o mundo conhecido era a Europa e parte da Ásia e da África. Com a “descoberta” (ou achamento no termo da época) do Novo Mundo, o eixo econômico mudou-se do Mar Mediterrâneo, dominado por italianos desde o fim das Cruzadas, para o Oceano Atlântico. É indispensável dizer que naquele momento o capitalismo se encontrava na sua fase comercial e estava ávido por novos consumidores e por matéria-prima. Sendo assim, o achamento da América foi fundamental para a expansão mercantil européia.
            A chegada da esquadra portuguesa no Brasil, liderada por Pedro Álvares Cabral, foi marcada pelas “Visões do Paraíso”. Os navegadores, baseados em fundamentos míticos, acreditavam que a Oeste do mundo conhecido (Europa), encontrar-se-ia um Paraíso Terrestre. Com isso, se constrói a fundação do Brasil: um local onde tudo se planta e tudo se colhe, lugar em que a população é dócil e a abundância reina. É o chamado mito fundador, defendido pela filósofa Marilena Chauí.[1] 
            Para Darcy Ribeiro (2005), a chegada dos portugueses no litoral brasileiro, provocou um choque de culturas. Era a civilização portuguesa contra a barbárie indígena. Para o sociólogo, "Os iberos se lançaram à aventura no além-mar... desembarcavam sempre desabusados, atentos aos mundos novos, querendo fruí-los, recriá-los, convertê-los e mesclar-se racialmente com eles...". A expansão marítima portuguesa, a serviço dos interesses reinóis e da fé cristã, colocava o povo português, tão louvado por Camões, em posição proeminente no mundo.
            De fato, os portugueses já estavam acostumados em miscigenar-se. Pelo menos nesse ponto há um diálogo entre Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro. De acordo com o primeiro, a integração com os negros e índios não se deu com o ideal de raça superior, aliás, o termo racismo nem existia nos primórdios da colonização. Ele afirma no seu livro Raízes do Brasil (1970), que não havia orgulho de raça dos portugueses. Isso é realmente comprovado de diversas maneiras, principalmente, com os séculos de ocupação islâmica em território Ibérico, em que o português se acostumou a conviver e miscigenar-se com o “outro”. Ainda hoje, existem muitos vestígios da cultura muçulmana em Portugal e Espanha.
            Segundo Holanda, o português enxergava na integração com outros povos, no Brasil o índio e o negro, uma maneira de amenização social. Nessa passagem, o historiador dialoga com o “pai da sociologia brasileira”, Gilberto Freyre. Em seu livro “Casa Grande & Senzala”, Freyre afirma:

“(...) Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo. É verdade que [esteve] agindo sempre, entre tantos antagonismos contundentes, amortecendo-lhes o choque ou harmonizando-os, a condição de confraternização e de mobilidade social peculiares do Brasil: a miscigenação, a dispersão da herança...”. [2]

            Não se sabe até que ponto essa estratégia de miscigenação pode ser confundida como uma forma de dominação, ou uma forma mascarada de tal prática. A sociedade brasileira, entre todas da América, era a que se formava com maior troca de valores culturais. Para Holanda, o negro na maioria das vezes estava submetido à escravidão ou a cargos menores, pois na perspectiva dos colonizadores portugueses ele não estava acostumado a “outros cargos”, como os de burocrata, embora vez por outra fosse encarregado de tal função através de mérito próprio.
            Quanto ao silvícola, que inicialmente era visto como “dócil”, e mais tarde taxado de “vadio”. O desinteresse inicial em relação ao índio foi modificado a partir do momento em que os portugueses descobriram a primeira grande riqueza brasileira, o pau-brasil.
Mais tarde, porém, não houve adaptação por parte do índio à nova realidade econômica do português – a empresa açucareira. A sua cultura de subsistência chocava-se com a cultura de excedentes do mercantilismo, o que inibiu e afastou o silvícola do trabalho escravo. Posteriormente, com a chegada do órgão da Contra-Reforma, a Companhia de Jesus, os jesuítas proibiram os colonizadores de utilizar o índio como escravo ou em outro tipo de trabalho, reservando para ele um lugar nas missões ou nas reduções jesuíticas. Pior para o índio, que de uma forma ou de outra, estaria sujeito a uma aculturação.
            Em relação à miscigenação com o índio, especificamente, Darcy Ribeiro (2005b) afirma:

No Brasil a mestiçagem sempre se fez com muita alegria, e se fez desde o primeiro dia... Imagine a seguinte situação: uns mil índios colocados na praia e chamando outros: "venham ver, venham ver, tem um trem nunca visto"... E achavam que viam barcas de Deus, aqueles navios enormes com as velas enfurnadas... "O que é aquilo que vem?" Eles olhavam, encantados com aqueles barcos de Deus, do Deus Maíra chegando pelo mar grosso. Quando chegaram mais perto, se horrorizaram. Deus mandou pra cá seus demônios, só pode ser. Que gente! Que coisa feia! Porque nunca tinham visto gente barbada – os portugueses todos barbados, todos feridentos de escorbuto, fétidos, meses sem banho no mar... Mas os portugueses e outros europeus feiosos assim traziam uma coisa encantadora: traziam faquinhas, facões, machados, espelhos, miçangas, mas sobretudo ferramentas. Para o índio passou a ser indispensável ter uma ferramenta. Se uma tribo tinha uma ferramenta, a tribo do lado fazia uma guerra pra tomá-la”.][3]

             Ribeiro desenvolve uma tese na qual afirma que a porta de entrada do branco na cultura indígena foi o chamado “cunhadismo”. Para ele, foi por meio desse costume que se tornou possível a formação do povo brasileiro. Foi, inicialmente, por meio da união das índias com os europeus que nasceu uma gente mestiça que construiu nosso país. Ribeiro afirma:

No ventre das mulheres indígenas começavam a surgir seres que não eram indígenas, meninas prenhadas pelos homens brancos – e meninos que sabiam que não eram índios... que não eram europeus. O europeu não aceitava como igual. O que era? Era uma gente "ninguém ", era uma gente vazia. O que significavam eles do ponto de vista étnico ? Eles seriam a matéria com a qual se faria no futuro os brasileiros”...[4]

Gilberto Freyre completa:

"A grande presença índia no Brasil não foi a do macho, foi a da fêmea. Esta foi uma presença decisiva, a mulher índia tomou-se de amores pelo português, talvez até por motivos fisiológicos, porque, segundo pude apurar quando escrevi Casa Grande & Senzala, as sociedades ameríndias ou índias, inclusive a brasileira, eram sociedades que precisavam de festivais como que orgiásticos para provocar nos homens, nos machos, desejos sexuais. O que há de acentuar é o grande papel da índia fêmea na formação brasileira, essa índia fêmea não só através do relacionamento mencionado sexual, mas através do papel social que ela começou a desempenhar magnificamente, tornou-se uma figura capital na formação brasileira."[5]

            É dessa forma que se dá início à construção do povo brasileiro. E é da contribuição dessas várias culturas que se forma o Brasil, um país multicultural. A respeito disso, Ribeiro afirma:

“Há duas contribuições fundamentais nesse encontro: uma mestiçagem do corpo e uma mestiçagem da cultura. Em nós vivem milhões de índios, índios que foram esmagados porque a brutalidade do branco com o índio foi terrível. Esmagados porque o europeu tinha muita doença. Os índios não tinham cárie dentária, nem gripe, nem tuberculose... Cada enfermidade dessas era uma espécie de guerra biológica, matou índios em quantidade”...[6]

            A mestiçagem no Brasil teve dois impactos, um irreparável: a dizimação de milhões de índios e negros ocorrida, principalmente, pela sífilis adquirida dos europeus e de tantas outras doenças transmitidas pelo colonizador; e outra: as inúmeras manifestações culturais presentes no país. No primeiro caso, estima-se que no Brasil havia cinco milhões de índios no início da colonização. Dois séculos depois, eles não chegavam a dois milhões. E, atualmente, não passam de 400 mil. Em cinco séculos desapareceram para sempre cerca de 800 etnias. Eram povos de diferentes culturas, que ocupavam vastos territórios de características geográficas distintas. Até hoje a dívida que se tem com as populações e as tradições indígenas ainda não foi paga. São corriqueiras as imagens de desrespeito ao povo indígena, como assassinatos de índios, ocupação dos territórios que ainda lhes restam, entre tantas atrocidades. No entanto, segundo Ribeiro, ainda há muito dos indígenas em nós, mesmo não sabendo:

“Mas esses índios que morriam sobreviviam naqueles mestiços que nasciam. Somos nós que carregamos no peito esses índios, os genes deles para reprodução e a sabedoria deles da mata. O Brasil só é explicável assim, é uma coisa diferente do mundo”...[7]

            Quanto às manifestações culturais indígenas, ainda hoje, apesar da destruição física, elas sobrevivem no dia-a-dia de muitos brasileiros. Na comida, por exemplo, isso ocorre em larga escala. A mandioca faz parte do cardápio do brasileiro. Ela é cultivada e preparada em todo o país do mesmo modo que os indígenas ensinaram no começo da colonização. É uma planta preciosa porque não precisa ser colhida nem estocada. Mantém-se viva na terra por meses. Outros alimentos que ainda hoje são consumidos pelos brasileiros e já eram pelos indígenas são: o amendoim, o milho, a batata, entre tantas outras frutas e legumes.

            Para Gilberto Freyre, ainda hoje guardamos costumes dos indígenas:

"Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós. Ela nos deu, ainda, a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do brasileiro."[8]

            Além da cultura indígena, uma outra importante cultura está viva no país, e possui, muito provavelmente, maior projeção que a analisada acima. A cultura africana é marcante no Brasil, mesmo depois de séculos de opressão e resistência. O povo africano chegou ao país para substituir o índio na produção de açúcar. Com isso, foi implantada no Brasil uma das maiores crueldades patrocinadas pela humanidade: a escravidão negra. Antes de qualquer coisa, optou-se pelos negros pois dessa forma abrir-se-ia um extraordinário ramo comercial com vultuosos lucros capazes de dar inveja a qualquer grande investidor dos dias atuais. Acrescente-se a isso a justificativa cristã pela escolha dos negros: o fato de não possuírem alma.
  A barbárie do tráfico negreiro foi responsável por retirar da África milhões de seus filhos, enviando-os à América para uma vida humilhante. A chamada Diáspora Africana levou para o Novo Mundo cerca de dez milhões de almas[9], embora esse número seja incerto, às vezes aumentando ou diminuindo. Só para o Brasil vieram cerca de quatro milhões, cerca de 40% do contingente desembarcado em terras americanas.[10] 
            Diz Ribeiro sobre o tráfico:

“A grande contribuição da cultura portuguesa aqui foi fazer o engenho de açúcar... movido por mão-de-obra escrava. Por isso, começaram a trazer milhões de escravos da África. O negócio maior do mercado mundial era a venda de açúcar para adoçar a boca do europeu e depois a remessa de ouro. Mas a despesa maior era comprar escravos. Os europeus sacanas iam à África e faziam grandes expedições de caça de negros que viviam ali uma vida como a dos índios aqui, com sua cultura, com sua língua, com seu modo... Metade morria na travessia, na brutalidade da chegada, de tristeza, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil”.[11]

É curioso ressaltar que já no embarque dos escravos, tentou-se homogeneizar as diferentes etnias que compunham o aglomerado de gentios. Desde cedo os traficantes domesticavam aqueles que mais tarde seriam denominados simplesmente por africanos ou negros, e mais tarde, renomeados com nomes portugueses, como Pedros, Joãos, Antônios, Marias, Ritas, e outros. Durante todo o período da escravidão, também tornou-se normal o escravo ganhar o sobrenome do seu senhor ou do engenho em que trabalhava.
Essa política teria continuidade dentro dos engenhos, mas com um caráter diferente. Se a princípio os europeus tentaram homogeneizar as etnias, posteriormente, ao introduzirem o negro na lavoura, tentaram agrupar as mais diferentes etnias dentro das fazendas, para que se dificultassem as revoltas e as agitações.
            A respeito disso, Ribeiro diz:

“E esses negros não podiam falar um com o outro, veja esse desafio como é tremendo. Eles vinham de povos diferentes. Então, o único modo de um negro falar com o outro era aprender a língua do capataz, que nunca quis ensinar português. Milagrosamente, genialmente esses negros aprenderam a falar português. Quem difundiu o português foi o negro, que se concentrou na área da costa de produção do açúcar e na área do ouro... Mas preste atenção: com os negros escravos vinham as molecas de 12 anos, bonitinhas. Uma moleca daquelas custava o preço de dois ou três escravos de trabalho. E os donos de escravos queriam muito comprar, e os capatazes também. Comprar uma moleca pra sacanagem. Mas essas molecas pariam filhos, e quem era o filho? Era como o filho da índia. Ele não era africano, visivelmente. Ele não era índio. Quem era ele? Ele também era um "zé ninguém" procurando saber o que era. Ele só encontraria uma identidade no dia em que se definisse o que é o brasileiro”.[12]

            A integração entre a Casa Grande e a Senzala trouxe, da mesma forma que aconteceu com o índio, pontos positivos e negativos. Quanto aos primeiros, percebemos hoje em larga escala a presença maciça da cultura africana no cotidiano brasileiro. Na religião, embora muitos afro-descendentes tivessem sido convertidos de maneira impositiva ao catolicismo, muitos outros preservaram suas antigas crenças, chamadas pejorativamente de “magia negra”, como a umbanda e principalmente o “calundu”, mais conhecido como candomblé, um dos principais responsáveis pela afirmação da identidade negra no Brasil. Gêneros musicais também tinham espaço entre os escravos. A viola d´Angola juntamente com outros instrumentos africanos tocavam o som de raiz. O antigo lundu, o maxixe, a capoeira, e o jongo são onipresentes desde a época colonial. Entre os tipos musicais merecem maior destaque: o samba, criado originalmente por negros baianos e cariocas, e recentemente o mangue-beat e o rap (trazido da Jamaica e dos EUA) que hoje são elementos de afirmação dos afro-descendentes.
            Nos esportes, a maior participação dos negros é no futebol. Depois do advento do esporte no Brasil, no fim do século XIX trazido pelos ingleses, a modalidade esportiva era praticada somente por brancos e ainda pairava o amadorismo. No entanto, já por volta da década de 1930, quando já existiam as agremiações hoje conhecidas, o esporte tinha se tornado profissional e apresentado às classes mais baixas. Coube aos negros dar uma nova cara ao futebol. Com sua ginga, ritmo, alegria e passos marcantes, os afro-descendentes foram os maiores responsáveis pelas primeiras conquistas brasileiras e também por um padrão de jogo que ainda hoje é paradigma de bom futebol. Gilberto Freyre chamou esse estilo de “mulatismo”:
            “Acaba de se definir de maneira inconfundível um estilo brasileiro de futebol, e esse estilo é uma expressão a mais do nosso mulatismo ágil em assimilar, dominar, amolecer em dança, curvas ou em músicas, as técnicas européias ou norte-americanas mais angulosas para o nosso gosto: sejam elas de jogo ou de arquitetura. Porque é um mulatismo o nosso - psicologicamente, ser brasileiro é ser mulato - inimigo do formalismo apolíneo sendo dionisíaco a seu jeito - o grande feito mulato”.[13]
     Ou ainda:
            “O mesmo estilo de jogar futebol me parece contrastar com o dos europeus por um conjunto de qualidades de surpresa, de manha, de astúcia, de ligeireza e ao mesmo tempo de brilho e de espontaneidade individual em que se exprime o mesmo mulatismo de que Nilo Peçanha foi até hoje a melhor afirmação na arte política. Os nossos passes, os nossos pitus, os nossos despistamentos, os nossos floreios com a bola, o alguma coisa de dança e capoeiragem que marcam o estilo brasileiro de jogar futebol, que arredonda e às vezes adoça o jogo inventado pelos ingleses e por eles e por outros europeus jogado tão angulosamente, tudo isso parece exprimir de modo interessantíssimo para os psicólogos e os sociólogos o mulatismo flamboyant e, ao mesmo tempo, malandro que está hoje em tudo que é afirmação verdadeira do Brasil”.[14]
Com o “mulatismo”, o Brasil venceu brilhantemente as copas de 1958, 1962 e 1970, liderados por Didi, Garrincha, Pelé e Jairzinho. Nas outras conquistas (1994 e 2002) não foi diferente. Foi marcante e decisiva a presença de afro-descendentes no elenco brasileiro, como Romário em 1994 e Ronaldo e Rivaldo em 2002. Em outras modalidades a presença dos afro-descendentes também é marcante e fundamental para os triunfos do país.
Diz Ribeiro sobre a importância do negro no Brasil:

O negro guardou sobretudo sua espiritualidade, sua religiosidade, seu sentido musical. É nessas áreas que ele dá grandes contribuições e ajuda o brasileiro a ser um povo singular. Quando chegam na cidade são capazes de fazer coisas, por exemplo, a cultura do Rio de Janeiro, a beleza do Carnaval carioca, que é uma criação negra, a maior festa da Terra! A beleza de Iemanjá, uma mãe de Deus que faz o amor. Você não vai lá pedir que o marido não bata tanto, que não seja tão filho daquilo, vai pedir um amante gostoso. Isso é uma coisa fantástica! Um povo que é capaz de inventar uma coisa destas! Nunca houve depois da Grécia! Isso são os nossos negros, os nossos mulatos desse país”.[15]

III – Ser Brasileiro

Depois de dissertar sobre a presença das três grandes culturas no país, levantarei aqui algumas hipóteses sobre uma identidade brasileira, apesar das complexidades, amplitudes e incertezas do tema, procurando mostrar as visões dos estudiosos aqui presentes.
Para Sérgio Buarque de Holanda (1970a), mesmo havendo as inúmeras manifestações culturais de índios e negros no Brasil, marcante mesmo é a cultura branca, européia, portuguesa. Diz o historiador, “Podemos dizer que de lá [Portugal] nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a nossa forma”.  Para ele, os traços mais marcantes do brasileiro estão relacionados com características dos nossos colonizadores, como: o individualismo e a não valorização do trabalho manual. Em uma das suas frases mais marcantes, ele afirma (1970b): “somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra”.
Já para Gilberto Freyre, o brasileiro é um mosaico, fruto da miscigenação ocorrida no país. Do branco herdamos a rigidez, a disciplina e o autoritarismo. Do índio a subsistência, a higiene pessoal, a malandragem. E do negro, a força, a alegria, a ginga, a resistência. Diz ele sobre a etnia (2001): "Pode-se juntar à superioridade técnica e de cultura dos negros sua predisposição como que biológica e psíquica para a vida nos trópicos. Sua maior fertilidade nas regiões quentes. Seu gosto pelo sol. Sua energia sempre fresca e nova quando em contato com a floresta tropical."
Darcy Ribeiro conclui sobre o ser brasileiro, algo parecido com a perspectiva de Freyre, apontando no horizonte a glória do povo brasileiro.

“Meu livro mostra por que caminhos e como nós viemos, criando aquilo que eu chamo de Nova Roma. Roma com boa justificação... Roma por quê? A grande presença no futuro da romanidade, dos neolatinos é a nossa presença. Isso é o Brasil, uma Roma melhor porque mestiça, lavada em sangue negro, em sangue índio, sofrida e tropical. Com as vantagens imensas de um mundo enorme que não tem inverno e onde tudo é verde e lindo, e a vida é muito mais bela... E é uma gente que acompanha esse ambiente com uma alegria de viver que não se vê em outra parte. Esse país tropical, mestiço, orgulhoso de sua mestiçagem... Isso é que me levou muito tempo. Entender como isso se fez... Havia muita bibliografia sobre aspectos particulares, mas não uma visão de conjunto.”[16]

De acordo com o sociólogo, o brasileiro é uma pessoa que herdou as principais características das três grandes etnias que se miscigenaram no país e que ainda está por ver o sucesso do seu país.
Percebe-se, claramente, que as visões de Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro exprimem uma euforia acerca da identidade brasileira, projetando o país para um lugar de destaque mundial no futuro. O mesmo não ocorre com Sérgio Buarque de Holanda, que prefere uma análise mais fria da sociedade.
Uma de suas principais frases, já citada aqui, “somos uns desterrados em nossa terra”, já fazia sentido na época em que o livro foi escrito – década de 1930 – e continua fazendo ainda hoje, num contexto de globalização.
Holanda quis dizer que a substância da cultura brasileira viera de Portugal e o “resto” foi o que se adaptou bem ou mal a ela. Atualmente, podemos dizer que aos elementos constituintes do tripé da cultura brasileira – índios, portugueses e negros – foi adicionada, principalmente, uma nova influência – a estadunidense.
A invasão cultural estadunidense, pacífica e muitas vezes invisível, começou a ter destaque durante a Segunda Guerra Mundial, quando o país despontou como uma das principais potências mundiais. Nessa época, momento conturbado na história brasileira, devido à ditadura de Vargas, o governo nacional pendia entre a Alemanha nazista e os Aliados liderados pela URSS e EUA. O fator principal para a entrada do Brasil ao lado dos últimos é fundamental para entender o início da forte influência estadunidense no país. O presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, consegue o apoio de Vargas por meio de um aporte financeiro substancial para a economia brasileira, que culminou com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional.
A partir desse ponto, e principalmente pela vitória dos Aliados na 2ª Guerra Mundial, os EUA passaram a exercer uma influência substancial no mundo inteiro. A América Latina sentiu isso profundamente. Em 1946, o ex-chanceler Otávio Mangabeira beijou a mão do presidente Eisenhower, quando de sua visita no país, comprovando toda a subordinação brasileira aos EUA. A partir daí as portas do mercado brasileiro estariam “arreganhadas” ao capital yankee., embora mesmo antes da 2ª Grande Guerra, a presença cultura estadunidense já era sensível no Brasil. Muitos brasileiros já liam a Reader´s Digest, comiam enlatados Swift, usavam óculos Ray-Ban e se barbeavam com Gillette, e, sempre que possível, diziam ok e bye bye. 
Porém, foi durante a década de 1960 que veio a avalanche cultural. Junto com o apoio político à ditadura militar brasileira, vieram influências em todos os setores da sociedade. O capital financeiro, por intermédio da chegada maciça de empresas internacionais no país, foi utilizado para criar o falso “milagre brasileiro” que trouxe como resultado: mais concentração de renda, inflação exorbitante, explosão da dívida externa, e, principalmente, uma década perdida em relação ao desenvolvimento econômico.
Inerente à presença do capital, estava o “american way of life”, difundido como paradigma de modernidade e progresso, utilizado como estímulo para o consumo dos produtos que o simbolizavam. A compra de automóveis nas décadas de 1960 e 1970 no país aumentou significativamente. Empresas de capital estadunidense desse ramo tiveram grandes lucros, como a GM e a Ford. No entanto, a invasão de produtos dos EUA não se resumia somente aos carros. Ao longo dos anos a cultura estadunidense foi ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira.
Por meio das histórias em quadrinhos, a Walt Disney conquistou os brasileiros. O personagem Zé Carioca, que cometeu várias gafes ao tentar “ser brasileiro”, como afirmar que a capital do país era Buenos Aires, tentava estereotipar o Brasil e o brasileiro, exibindo o samba, as praias do país, baianas e baianos, que, aliás, eram representados com a cor branca, e não por morenas ou negras.
A invasão estadunidense também não podia deixar de chegar ao cinema e à televisão. A indústria cinematográfica dos EUA estava presente em praticamente todas as salas de cinema do Brasil, com filmes de James Stewart, Greta Garbo, Gene Kelly e James Dean. Nos anos 1970 já estavam presentes no país a 20th Century Fox, a CBS, a Walt Disney´s Production e os estúdios Hanna Barbera. É importante ressaltar que em muitos filmes era veiculada a propaganda de que os comunistas sempre representavam o mal. A visão maniqueísta dos filmes “hollywoodianos” esteve onipresente nos cinemas do país.
Quanto à televisão brasileira, ela foi inspirada no modelo de transmissão dos EUA E, por meio dos “enlatados” transmitidos no Brasil, modos de agir, de vestir, de pensar e de comer eram transmitidos como verdades absolutas e, é claro, eram copiados por muitos brasileiros. Séries como: Batman & Robin, Jeannie é um Gênio, Kojac, Mr Ed, A Feiticeira, e cartoons animados como, Mr. Magoo, Manda-Chuva, Pepelegal, Zé Colméia, entre dezenas de outras séries e programas estavam na grade de programação. O fenômeno da cultura de massa atingiu em cheio o nosso país.
Em relação a esses “enlatados” e à invasão cultural estadunidense, algumas bandas da música brasileira se revoltaram e protestaram em suas letras, como é o caso da banda Legião Urbana em sua música “Geração Coca-Cola”.
Canta Renato Russo:

“Quando nascemos fomos programados/ A receber o que vocês nos empurraram/ Com os enlatados dos USA, de 9 às 18/ Desde pequenos nós comemos lixo/ Comercial e industrial/ Mas agora chegou a nossa vez/ Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês”.

E em relação à música a situação não foi diferente. As rádios brasileiras foram tomadas pelas canções de Elvis Presley e Frank Sinatra. Músicas como Oh, Carol e Diana marcaram gerações e os bailes dos anos 50 e 60. O gênero rock e suas variações se espalharam pelo país. E será nos anos 60 que surgirá no país o fenômeno da jovem-guarda, que refletia, na verdade, a influência estadunidense por meio do “rock and roll” e do “yeah-yeah-yeah”. Muitos intelectuais engajados afirmavam que esse “modismo” era totalmente alienado e era mais uma das manifestações burguesas, pelo fato de não ter qualquer conteúdo de contestação política.
Em um outro extremo musical, mas também com a influência estadunidense, surgiu, no final dos anos 50: a bossa nova. Misturando elementos do jazz com os do samba, esta deixou, definitivamente, sua contribuição na música brasileira, destacando Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto.
Ao longo das décadas o capital estadunidense, que trazia consigo a cultura do país como vimos acima, alcançava todos os tipos de consumidor. As crianças brasileiras não podiam ser esquecidas. Além de mascarem os chicletes, meninos e meninas se divertiam com o Playmobil, Falcon, Suzy, Barbie e tantos outros. Esses brinquedos sempre vinham e ainda vêm carregados de estrangeirismos, como: Police, fire, bank, saloon e tantas outras palavras.
Dos anos 90 aos dias atuais, com o avanço da globalização, essa “invasão cultural capitalista” tem aumentado significativamente, com a penetração de novos elementos culturais dos EUA no país, como no setor alimentício (as redes de “fast-food”), no vestuário, em novos brinquedos infantis e em vários outros segmentos. Merecem destaque os estrangeirismos que têm se disseminado amplamente pela sociedade, principalmente pela difusão da internet e de mais “enlatados” estadunidenses.
Digamos assim: a invasão cultural tem se renovado para continuar a mesma, ou seja, dominando o mercado brasileiro. É válido ressaltar que essa “invasão” teve e tem tido seus pontos positivos e negativos, como em todo intercâmbio econômico e cultural. Todos nós ganhamos e perdemos com esse fenômeno. O que não pode ocorrer é ela se sobrepor aos produtos nacionais, à cultura nacional, como, por exemplo, ao folclore brasileiro, que ganhou mais espaço na televisão brasileira com o programa “Castelo Rá-tim-bum” da TV Cultura, a refilmagem do seriado “O sítio do pica-pau amarelo” da TV Globo, e a gravação de novelas e séries de época. 
Para finalizar, percebe-se ao longo de toda esta explanação que a cultura é um processo, e não algo acabado, imóvel. Sendo assim, é possível afirmar que a identidade brasileira esteve sempre em transformação. Dessa forma, dificilmente podemos taxá-la como algo definitivo e imutável. Muito pelo contrário. Somos um país aberto ao estrangeiro desde Cabral a Lula, e sempre soubemos respeitá-lo e absorvê-lo com irmandade, embora isso algumas vezes não tenha sido recíproco. Porém, esse contato nos trouxe de tudo um pouco. Soma-se à identidade brasileira, além dos seus três elementos formadores, valores e caracteres de todos os rincões do planeta. Dos italianos aos japoneses. Dos judeus aos muçulmanos. Do guaraná à Coca-Cola, construindo uma verdadeira miscelânea cultural, que às vezes pendeu para um lado, às vezes, para outro, dependendo do contexto histórico. Toda essa mistura faz de nós um povo ímpar, singular na história da humanidade, como disse Darcy Ribeiro. É possível que a identidade brasileira se encontre nesse ponto, na simbiose, na constante transformação, sempre de braços abertos àquilo que vem de fora.
PROF. VLADIMIR MIGUEL RODRIGUES
Exercícios
1. UEL 2012 - No debate sobre as cotas para o ingresso dos negros nas universidades públicas, reapareceram, de forma recorrente, argumentos favoráveis e contrários à adoção dessa política afirmativa. Os trechos reproduzidos a seguir constituem exemplos desses argumentos. Em um país onde a maioria do povo se vê misturada, como combater as desigualdades com base em uma interpretação do Brasil dividido em “negros” e “brancos”? Depois de divididos, poderão então lutar entre si por cotas, não pelos direitos universais, mas por migalhas que sobraram do banquete que continuará sendo servido à elite. Assim sendo, o foco na renda parece atender mais à questão racial e não introduzir injustiça horizontal, ou seja, tratamento diferenciado de iguais.
(Adaptado de: Yvonne Maggie (Antropóloga da UFRJ). O Estado de São Paulo. 7 mar. 2010. Este artigo de Yvonne Maggie serviu de base para o seu pronunciamento lido por George Zarur na audiência pública sobre ações afirmativas convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em março de 2010.)
Desde 1996 me posicionei a favor de ações afirmativas para negros na sociedade brasileira. Vieram as cotas e as apoiei, como continuo fazendo, porque acho que vão na direção certa – incluir socialmente os setores menos competitivos – embora saiba que o problema é muito maior e mais amplo. Tenho apoiado todas as medidas que diminuam a pobreza ou favoreçam a mobilidade social e todas as que combatam diretamente as discriminações raciais e a propagação dos preconceitos raciais. Em curto prazo, funcionam as políticas de ação afirmativa; em longo prazo, funcionam políticas que efetivamente universalizem o acesso a bens e serviços.
(Antônio Sérgio Guimarães (Sociólogo da USP) Entrevista concedida à Ação Educativa. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2011.)
A divergência dessas duas posições reproduz, atualmente, o antagonismo existente no debate sobre a questão racial na sociologia brasileira, exemplificado pela oposição entre os pensamentos de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes.
Identifique e explique, nos trechos reproduzidos, os argumentos favoráveis e desfavoráveis à política de cotas para negros em universidades, comparando-os com as visões teóricas de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes.
2. (UEL Adaptado) Leia o texto a seguir.
Nosso futebol mulato, com seus floreios artísticos cuja eficiência – menos na defesa que no ataque – ficou demonstrada,é uma expressão de nossa formação social, democrática como nenhuma e rebelde a excessos de ordenação interna e externa; a excessos de uniformização, de geometrização, de estandartização; a totalitarismos que façam desaparecer a variação individual ou espontaneidade pessoal.
(Adaptado de FREYRE, G. apud FRANZINI, F. No campo das idéias: Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Buenos Ayres: Lecturas: Educación Física y Deporte. Ano 5 nº 26 - Revista digital (http://www.efdeportes.com), 2000.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, explique:
a)       O conceito de democracia racial de Freyre.
b)       Ele pode ser verificado na sociedade brasileira atualmente?
c)       O mulatismo.

3. (UEL 2013). Leia o texto a seguir.
Estava na primeira página: “O ESCANDALOSO ABANDONO DA BARRA”. Descompostura em regra, em Alfredo Bastos, “deputado estadual eleito pelo povo de Ilhéus para defender os sagrados interesses da região cacaueira” e cuja “eloquência franzina só se fazia ouvir para celebrar os atos do governo, parlamentar do muito bem e do apoiado!”, um compadre do coronel Ramiro, “inútil mediocridade, servilismo exemplar ao cacique, ao manda-chuva”, culpando os políticos no poder pelo abandono da barra de Ilhéus. “O maior e mais premente problema da região, que significará riqueza e civilização ou atraso e miséria, o problema da barra de Ilhéus, ou seja, o magno problema da exportação direta do cacau” que não existia para os que haviam “em circunstâncias especiais, abocanhado os postos de mando”. E por aí vinha, terminando numa evidente alusão a Mundinho, ao lembrar que, no entanto, “homens de elevado sentimento cívico, estavam dispostos, ante o criminoso desinteresse das autoridades municipais, a tomar o problema em suas mãos e a resolvê-lo”.
(Adaptado de: AMADO, J. Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. São Paulo: Record, 1978. p.136-137.)
Caio Prado Jr., em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado em 1942, defendia a tese de que a origem do atraso da nação brasileira está vinculada ao tipo de colonização. O texto citado, do escritor Jorge Amado, é referente a uma notícia do jornal de Ilhéus, em que a oposição da cidade contesta os líderes políticos do local, sobre o descaso para com o porto da cidade.
a) Identifique e explique o tipo de economia vivida à época pelo País (década de 1920), ilustrado no texto.
b) Aponte três características de relações de poder formadas no País que aparecem descritas no trecho citado.
1SALA 2SALA 3SALA


[1] CHAUI, M. Mito Fundador e Sociedade Autoritária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2000. pág 9.
[2] FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: introdução à história patriarcal no Brasil. 42. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001. p. 125.
[3] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.
[4] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.

[5] FREYRE, G. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1984.
[6] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.

[7] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.
[8] FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: introdução à história patriarcal no Brasil. 42. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001. p. 230.

[9] GOMES, F, FERREIRA, R. A lógica da crueldade. In: Revista Nossa História, São Paulo, Edição Especial nº 3, 2005, pág 14. 

[10] GOMES, F, FERREIRA, R. A lógica da crueldade. In: Revista Nossa História, São Paulo, Edição Especial nº 3, 2005, pág 14. 

[11] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.
[12] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.
[13] FREYRE, Gilberto. Sociologia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945.
[14] FREYRE, Gilberto. Sociologia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945.
[15] RIBEIRO, D. Entrevista ao Programa Alô Escola da TV CULTURA, 1995.
[16] FREYRE, G. Entrevista ao Programa Alô Escola, 1984.

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