Antropologia,
ciência recente
Ao colocar-se em descrença a explicação bíblica exposta no Gênese, pela qual o homem nasceu de uma ação divina imediata, o Ato da Criação, abriu-se o caminho para que cientistas e demais pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo todo, atrás do chamado elo perdido, isto é, do antropóide ou hominídio, o ser meio animal, meio humano, que hipoteticamente teria ligado, em algum tempo remotíssimo, o mundo natural ao mundo humano, a ponte sobre o riacho Rubicon que aproximara, num lugar incerto e obscuro do tempo, o símio do homem. Abandonavam desta maneira a crença na divindade do ser humano, implícita a qualquer pensamento religioso, para, aparelhados nas ciências físicas e exatas, mergulharam atrás das suas raízes naturais do homem, entendendo-o fruto da Natureza e não de Deus.
Simultaneamente a esta verdadeira caçada às formas pré-humanas, atrás dos vestígios últimos dos primatas, os interesses dos investigadores ampliaram-se para o estudo das sociedades ditas primitivas, acreditando que elas também mereciam serem submetidas ao crivo da racionalidade ocidental. Desta forma, a antropologia começou a alargar-se, procurando determinar qual era a organização social das tribos e qual era o sistema de parentesco delas, como realizavam suas cerimônias de iniciação e de matrimônio, como procediam nos seus ritos religiosos e nos de sepultamento, e de que maneira viam os céus e temiam os demônios.
A Antropologia é, pois, o estudo do homem. Se bem que, como observou Malinowski, existam outras ciências que igualmente o fazem, tais como a sociologia, a psicologia, a historia, a leis, a economia, e a ciências políticas, ela, a antropologia, se distingue por incluir na sua área de estudo as questões de ordem físicas, anatômicas e estruturais do homem, atendidas pela chamada Antropologia Física, que tratado o homem como um organismo físico, seguiu as pistas da sua evolução a partir das formas mais primitivas da vida.
Antropologia
cultural
Outro
ramo da antropologia que ganhou grande estatura, e uma projeção que saltou para
bem além das suas fronteiras de investigação, foi o da antropologia cultural.
Isto deveu-se pela impressionante ampliação do seu campo de ação, englobando a
lingüistica, a arqueologia e a etnologia (descrição ou crônica da cultura de
uma tribo ou povo), estudos esses que referem-se ao comportamento do homem,
particularmente no que diz respeito às atitudes padronizadas, rotineiras, que
genericamente chama-se de cultura. Entenda-se que para o antropólogo a palavra
cultura adquire uma outra dimensão do que a que convencionalmente entendida.
Não se trata de identificá-la, a cultura, com erudição ou sofisticação, como é
comum associar-se essa palavra, mas sim de utiliza-la para definir tudo aquilo
que o homem faz, pois, para o antropólogo, cultura é forma de vida de um grupo
de pessoas, uma configuração dos comportamento aprendidos, aquilo que é
transmitido de geração em geração por meio da língua falada e da simples
imitação. Não se trata de um comportamento instintivo, mas algo que resulta de
mecanismos comportamentais introjetados pelo indivíduo.
Áreas
de interesse
Além
da religião, fazem parte da cultura os modos de alimentar-se (“O cru, o assado
e o cozido”, brilhante ensaio de Lévi-Strauss, mostra a variação dos
procedimentos das tribos com o alimento), de vestir-se, de combater ou de seguir
os rituais religiosos. Os antropólogos que seguem por esta senda podem até ser
divididos naqueles que se interessam em procurar aquilo que é comum entre as
várias culturas espalhadas pelo mundo, e aqueles outros que têm o seu interesse
voltado exclusivamente para o que é original, singular, único, naquela cultura.
Seus olhos e ouvidos voltam-se então para a magia, para os mistérios anímicos,
o medos aos “manes”, aos fantasmas, a linguagem dos sonhos, para a mitologia e
as concepções cósmicas, para o significado dos totens, para o sistema de
parentesco e os procedimentos nupciais, para as tatuagem e automutilações, os
sacrifícios, tudo isto entendido pelos antropólogos como “linguagens” especiais
passíveis de serem estudadas, compreendidas e catalogadas.
Voltaire
Schilling
Aprendendo
o básico
1.
No inicio do século XIX, o naturalista alemão Carl Von Martius esteve no Brasil
em missão cientifica para fazer observações sobre a flora e a fauna nativas e
sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao indígena, ele afirmou:
“Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a
civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um
nobre desenvolvimento progressivo (...). Esse estranho e inexplicável estado do
indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas
para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão
satisfeito e feliz.”
Carl
Von Martius. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São
Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982. Com base nessa descrição, conclui-se que o
naturalista
Von
Martius
A)
apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando que os índios,
diferentemente do que fazia a missão europeia, respeitavam a flora e a fauna do
pais.
B)
discriminava preconceituosamente as populações originarias da America e
advogava o extermínio dos índio .
C)
defendia uma posição progressista para o século XIX: a de tornar o indígena
cidadão satisfeito e feliz.
D)
procurava impedir o processo de aculturação, ao descrever cientificamente a
cultura das populações originarias da America.
E)
desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das sociedades indígenas e
reforçava a missão “civilizadora europeia”, típica do século XIX.
2. A
primeira imagem abaixo (publicada no século XVI) mostra um ritual antropofágico
dos índios do Brasil. A segunda mostra Tiradentes esquartejado por ordem dos
representantes da Coroa portuguesa.
A comparação entre as reproduções
possibilita as seguintes afirmações:
I. Os artistas
registraram a antropofagia e o esquartejamento praticados no Brasil.
II. A antropofagia era
parte do universo cultural indígena e o esquartejamento era uma forma de se
fazer justiça entre luso-brasileiros.
III. A comparação das
imagens faz ver como é relativa a diferença entre “bárbaros” e “civilizados”,
indígenas e europeus.
Está correto o que se
afirma em:
(A) I apenas.
(B) II apenas.
(C) III apenas.
(D) I e II apenas.
(E) I, II e III.
APRENDENDO
MAIS
3.
(UEL 2ª Fase)
a) Quais
os choques culturais que podem ser observados na charge?
b) De
qual país provém as principais influências da “indústria cultural?
4. (UEL
2013) Leia o texto a seguir.
A
França não está fazendo feio nas Olimpíadas este ano. Apesar de continuar longe
da China e dos Estados Unidos, o país já conseguiu 28 medalhas, entre elas 9 de
ouro. A surpresa é grande porque o país já teve resultados pífios em Olimpíadas
anteriores. A história das vitórias francesas é recente. Após o fiasco nos Jogos
Olímpicos de Roma em 1960, quando a França ficou no 25 o lugar do ranking com
apenas 5 medalhas, nenhuma de ouro, o país decidiu melhorar seu rendimento
esportivo. Para se manter entre os 10 melhores países do mundo, o estado
francês investiu – e continua investindo – pesado no esporte de base, nas
escolas públicas francesas. Todos os franceses, desde pequenos, devem “testar”
vários esportes em aulas de Educação Física. Essa política garante a renovação
do esporte a longo prazo ou, para usar um termo em voga, cria um ambiente
esportivo sustentável. Os resultados estão sendo colhidos hoje. Enquanto os
franceses acreditam que é necessário formar atletas, nós brasileiros
continuamos a olhar o sucesso com um certo misticismo. Acreditamos que os
melhores esportistas receberam um tipo de dom divino ou algo parecido. Enquanto
falamos em “esperança”, “mágica” e “milagre” para ganhar medalhas, a França
fala em “objetivos”, “esforço” e “elite”. Os raros medalhistas olímpicos
brasileiros que conseguem se diferenciar enfrentam uma enorme pressão e carregam
sozinhos o peso das expectativas de toda uma nação durante décadas. O resultado
disso é uma grande frustração, tanto dos esportistas, quanto dos torcedores,
que se repete a cada Olimpíada.
(Adaptado
de: PELIZ, A. C. Cartas de Paris: O segredo das medalhas francesas. Disponível
em: .Acesso em: 5 ago. 2012.)
O texto
pode ser analisado à luz do conceito de “capital” formulado por Bourdieu.
a)
Explique esse conceito e cite seus tipos principais.
b)
Identifique duas características que exemplificam o conceito, presentes na
política de esportes na França.
5. UEL
2013. Leia o texto a seguir.
Não é de
hoje que ser “moderno” e “antenado” é ser diferente. Toda geração tem seu grupo
tentando criar uma identidade própria, de preferência distante dos padrões que
a sociedade considera normais, mas muito do que pregam tem um pé nos anos 70.
No Brasil, uma das tendências é a ecovila, espécie de comunidade baseada na
produção de alimentos orgânicos, no uso de energia renovável e na preservação
do ambiente. Outra moda é a volta dos discos de vinil (por exemplo, LPs) e a
cultura do faça você mesmo, como a produção caseira de cervejas.
(Adaptado
de: PRADO, A. C.; HUECK, K. A Volta dos Hippies. Super Interessante, 296.ed.,
São Paulo: Editora Abril, out. 2011, p.77-79.)
Com base
no texto e nos conhecimentos sobre juventude e sociedade contemporânea,
assinale a alternativa correta.
a) A cultura
do “faça você mesmo”, por ser contra a exploração social, pauta-se pela recusa
em utilizar produtos industrializados.
b) A
retomada de práticas artesanais e criativas de sociabilidade é um dos fatores
da redução da criminalidade juvenil no Brasil.
c) Entre
os jovens de hoje, as identidades têm se constituído, predominantemente, a
partir de elementos reconhecidos como culturais.
d)
Inspirados nos hippies dos anos 1970, os jovens de hoje forçam o capitalismo a
retornar a seu período artesanal.
e) O
retorno aos referenciais setentistas justifica-se por ter sido um período no
qual os jovens cultivavam mais os valores tradicionais.
GABARITO
1E 2E
3SALA 4SALA 5C
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