As cores das aquarelas brasileiras



As cores das aquarelas brasileiras
Um pouco d'água, um pincel, tintas. Alguns traços coloridos numa folha de papel branco e eis que surge uma aquarela. Assim trabalhava o pintor Jean-Baptiste Debret, o maior cronista visual do Brasil no início do século XIX. Debret também foi um dos integrantes da Missão Francesa que veio ao Brasil em 1816. Você nunca ouviu falar neste artista? Pois saiba que ele contribuiu bastante para revelar ao resto do mundo os usos e costumes de um país de cores, sabores e sons tão diversos como o nosso?

Estampas milenares

A aquarela é uma técnica muito antiga. Desde o tempo dos egípcios, tintas à base de água usadas para pintar sobre papiros já eram conhecidas. Apesar disso, a aquarela sempre foi considerada uma técnica auxiliar, isto é, era empregada em estudos e esboços rápidos, que depois eram transformados em imagens definitivas, pintadas a óleo. Foi só no início do século XIX que um grupo de aquarelistas se uniu na Inglaterra e realizou, em 1805, a primeira exposição de pinturas com esta técnica. Durante aquele período, alguns artistas ingleses se especializaram em aquarela e retrataram belas paisagens.

 
Enquanto isso, no Brasil... 
 
Enquanto os ingleses faziam suas experiências com aquarela, em outra parte do mundo, Jean-Baptiste Debret desembarcava no Brasil ao lado dos demais integrantes da Missão Artística Francesa. Trazida por D. João VI, a Missão tinha como objetivo incrementar as belas-artes nos trópicos. A aquarela foi sua fiel companheira durante os 15 anos que permaneceu por aqui. Ajudou-o a colorir seus projetos de cenografia no Rio de Janeiro e a fazer anotações de viagem sobre a natureza, a sociedade, os costumes e o homem brasileiro. Sua obra artística constitui o acervo das nossas primeiras cores, durante o Brasil-Colônia e no início do Império. Debret foi nosso principal cronista visual do século XIX.


Esta vendedora de pão de ló ganhou cores tropicais pelas mãos de Debret

 
Missão Artística Francesa


O novo lar de D. João VI

A história da Missão Artística Francesa começou quando D. João VI, fugindo dos conflitos entre a França de Napoleão e a Inglaterra, decidiu transferir sua corte para o Brasil, em 1808. Com a família real, veio uma comitiva de 15 mil pessoas. Disposto a valorizar o Rio de Janeiro, capital do Reino Unido de Portugal, o regente português logo fundou as primeiras instituições – o Banco do Brasil, a Biblioteca Real e a Imprensa Régia – e incentivou o gosto pela arte, tal como se fazia em Portugal e no resto da Europa. Na arquitetura, essa tendência manifestou-se de imediato na construção de novos prédios de estilo neoclássico. Porém, a influência da cultura europeia sobre o Brasil só ficou realmente marcada com a vinda da Missão Francesa.

Você sabia?
A aquarela foi uma das técnicas mais utilizadas pelos botânicos e cientistas que participaram das expedições de desbravamento do Novo Mundo a partir do século XVIII. Eles retratavam as espécies animais e vegetais desconhecidas com tinta e água e, depois, essas imagens eram gravadas em pranchas de pedra (litogravura) usadas para ilustrar livros.
Paris dos Trópicos

Para dar ares de civilização à cidade onde ia viver com a corte real, D. João VI queria uma escola em que se ensinassem pintura e arquitetura, entre outras disciplinas. Incumbiu o conde da Barca, Antonio de Araújo de Azevedo, um apaixonado pela produção intelectual na França, e o marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, de selecionarem e contratarem os artistas que integrariam a Missão. Eles não tiveram problemas para reunir um time de primeira disposto a trocar a cidade de Paris pelo Rio de Janeiro. Faziam parte da 
O clima imperial nos Trópicos, segundo Jean-Baptiste Debret
Missão, entre outros, os pintores Joachim Lebreton e Nicolas-Antoine Taunay e o arquiteto Grandjean de Montigny.

Ao todo, eram 46 pessoas, entre familiares e criados. Esses artistas tinham por tarefa instituir o ensino oficial das belas-artes no Rio de Janeiro – gravura, pintura, escultura e arquitetura –, mas foram hostilizados pelos artistas luso-brasileiros, o que retardou a fundação da Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Depois da chegada dos artistas da Missão Francesa, o Rio de Janeiro foi alçado a uma espécie de "Paris dos Trópicos" e deixou de ser apenas a capital de uma distante colônia para se tornar efetivamente a sede do governo.


Debret: o destaque da Missão

Jean-Baptiste Debret foi um dos mais importantes membros da Missão Artística Francesa. Nascido em 1768, em Paris, fez seus primeiros estudos com o primo e também pintor Jacques-Louis David. Frequentou a Escola de Belas-Artes de Paris. Premiado por suas obras sobre as campanhas históricas de Napoleão, expôs várias vezes no Salão de Paris, considerado o evento mais importante do mundo das artes na época.

Porém, em 1814, a derrota do imperador francês interrompeu seu trabalho na Europa. Por isso, Debret não hesitou em aceitar, aos 48 anos, o convite do chefe da Missão Francesa, Joachim Lebreton, para vir ao Brasil e aqui fundar a Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Só não imaginou que ficaria por aqui por mais de uma década. Sua vasta produção inclui retratos da família real, pinturas de cenários para o Teatro São João (atual João Caetano) e trabalhos de decoração do Rio de Janeiro para a festa de aclamação de D. João VI.
Debret também foi professor de pintura histórica e, em 1829, realizou a primeira exposição de arte no Brasil.

Viagem pitoresca 

Em 1827, Debret decidiu integrar um grupo de tropeiros que viajava para o Rio Grande do Sul. Ao regressar ao Rio de Janeiro, três anos depois, havia passado por cinco províncias brasileiras e coletado informações suficientes para lançar sua maior obra –Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, espécie de álbum de gravuras com 153 reproduções de suas pinturas. Este trabalho foi publicado em três volumes, em Paris, entre 1834 e 1839, com uma tiragem limitada de 200 exemplares.

Referência histórica 

Além de lançar o olhar do estrangeiro sobre a nossa realidade, Debret tinha grande domínio técnico da aquarela – o que explica a importância da sua obra. Seus desenhos revelam um traçado livre e solto, mas bastante preciso, com destaque para as aquarelas descritivas dos vegetais, dos tipos e dos costumes da terra. Sem as cerca de 200 gravuras que fez do Brasil, seria muito difícil termos uma ideia do nosso país no século XIX. Sua produção é a nossa grande referência histórica. Jean-Baptiste Debret morreu em Paris, em 1848.

Neste quadro, Debret pintou um funcionário público saindo de casa com a família e os criados

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