| A aquarela é uma técnica muito antiga. Desde o tempo dos egípcios, tintas à base de água usadas para pintar sobre papiros já eram conhecidas. Apesar disso, a aquarela sempre foi considerada uma técnica auxiliar, isto é, era empregada em estudos e esboços rápidos, que depois eram transformados em imagens definitivas, pintadas a óleo. Foi só no início do século XIX que um grupo de aquarelistas se uniu na Inglaterra e realizou, em 1805, a primeira exposição de pinturas com esta técnica. Durante aquele período, alguns artistas ingleses se especializaram em aquarela e retrataram belas paisagens.
Enquanto isso, no Brasil...
Enquanto os ingleses faziam suas experiências com aquarela, em outra parte do mundo, Jean-Baptiste Debret desembarcava no Brasil ao lado dos demais integrantes da Missão Artística Francesa. Trazida por D. João VI, a Missão tinha como objetivo incrementar as belas-artes nos trópicos. A aquarela foi sua fiel companheira durante os 15 anos que permaneceu por aqui. Ajudou-o a colorir seus projetos de cenografia no Rio de Janeiro e a fazer anotações de viagem sobre a natureza, a sociedade, os costumes e o homem brasileiro. Sua obra artística constitui o acervo das nossas primeiras cores, durante o Brasil-Colônia e no início do Império. Debret foi nosso principal cronista visual do século XIX.
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Esta vendedora de pão de ló ganhou cores tropicais pelas mãos de Debret |
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Missão Artística Francesa |
| O novo lar de D. João VI
A história da Missão Artística Francesa começou quando D. João VI, fugindo dos conflitos entre a França de Napoleão e a Inglaterra, decidiu transferir sua corte para o Brasil, em 1808. Com a família real, veio uma comitiva de 15 mil pessoas. Disposto a valorizar o Rio de Janeiro, capital do Reino Unido de Portugal, o regente português logo fundou as primeiras instituições – o Banco do Brasil, a Biblioteca Real e a Imprensa Régia – e incentivou o gosto pela arte, tal como se fazia em Portugal e no resto da Europa. Na arquitetura, essa tendência manifestou-se de imediato na construção de novos prédios de estilo neoclássico. Porém, a influência da cultura europeia sobre o Brasil só ficou realmente marcada com a vinda da Missão Francesa.
Você sabia?
A aquarela foi uma das técnicas mais utilizadas pelos botânicos e cientistas que participaram das expedições de desbravamento do Novo Mundo a partir do século XVIII. Eles retratavam as espécies animais e vegetais desconhecidas com tinta e água e, depois, essas imagens eram gravadas em pranchas de pedra (litogravura) usadas para ilustrar livros.
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Paris dos Trópicos
Para dar ares de civilização à cidade onde ia viver com a corte real, D. João VI queria uma escola em que se ensinassem pintura e arquitetura, entre outras disciplinas. Incumbiu o conde da Barca, Antonio de Araújo de Azevedo, um apaixonado pela produção intelectual na França, e o marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, de selecionarem e contratarem os artistas que integrariam a Missão. Eles não tiveram problemas para reunir um time de primeira disposto a trocar a cidade de Paris pelo Rio de Janeiro. Faziam parte da
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O clima imperial nos Trópicos, segundo Jean-Baptiste Debret |
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Missão, entre outros, os pintores Joachim Lebreton e Nicolas-Antoine Taunay e o arquiteto Grandjean de Montigny.
Ao todo, eram 46 pessoas, entre familiares e criados. Esses artistas tinham por tarefa instituir o ensino oficial das belas-artes no Rio de Janeiro – gravura, pintura, escultura e arquitetura –, mas foram hostilizados pelos artistas luso-brasileiros, o que retardou a fundação da Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Depois da chegada dos artistas da Missão Francesa, o Rio de Janeiro foi alçado a uma espécie de "Paris dos Trópicos" e deixou de ser apenas a capital de uma distante colônia para se tornar efetivamente a sede do governo.
Debret: o destaque da Missão |
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Jean-Baptiste Debret foi um dos mais importantes membros da Missão Artística Francesa. Nascido em 1768, em Paris, fez seus primeiros estudos com o primo e também pintor Jacques-Louis David. Frequentou a Escola de Belas-Artes de Paris. Premiado por suas obras sobre as campanhas históricas de Napoleão, expôs várias vezes no Salão de Paris, considerado o evento mais importante do mundo das artes na época.
Porém, em 1814, a derrota do imperador francês interrompeu seu trabalho na Europa. Por isso, Debret não hesitou em aceitar, aos 48 anos, o convite do chefe da Missão Francesa, Joachim Lebreton, para vir ao Brasil e aqui fundar a Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Só não imaginou que ficaria por aqui por mais de uma década. Sua vasta produção inclui retratos da família real, pinturas de cenários para o Teatro São João (atual João Caetano) e trabalhos de decoração do Rio de Janeiro para a festa de aclamação de D. João VI. Debret também foi professor de pintura histórica e, em 1829, realizou a primeira exposição de arte no Brasil.
Viagem pitoresca
Em 1827, Debret decidiu integrar um grupo de tropeiros que viajava para o Rio Grande do Sul. Ao regressar ao Rio de Janeiro, três anos depois, havia passado por cinco províncias brasileiras e coletado informações suficientes para lançar sua maior obra –Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, espécie de álbum de gravuras com 153 reproduções de suas pinturas. Este trabalho foi publicado em três volumes, em Paris, entre 1834 e 1839, com uma tiragem limitada de 200 exemplares.
Referência histórica
Além de lançar o olhar do estrangeiro sobre a nossa realidade, Debret tinha grande domínio técnico da aquarela – o que explica a importância da sua obra. Seus desenhos revelam um traçado livre e solto, mas bastante preciso, com destaque para as aquarelas descritivas dos vegetais, dos tipos e dos costumes da terra. Sem as cerca de 200 gravuras que fez do Brasil, seria muito difícil termos uma ideia do nosso país no século XIX. Sua produção é a nossa grande referência histórica. Jean-Baptiste Debret morreu em Paris, em 1848.
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Neste quadro, Debret pintou um funcionário público saindo de casa com a família e os criados
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