Retratos da vida


"As duas Fridas"(1939) acervo klick
Conheça alguns artistas que se descreveram, desenharam ou compuseram músicas contando algum fato da vida, descrevendo uma situação.


Autorretrato

Ao longo dos anos, muitos artistas se beneficiaram da técnica de desenhar a si próprio – em uma tela ou em outros suportes –, exatamente da forma como se veem e como esperam que o espectador os veja.

O ato de desenhar a si mesmo chama-se autorretrato, estilo que ganhou força e reconhecimento na Renascença.


Se você fizer uma pesquisa entre os autorretratos de pintores famosos, perceberá que, na maior parte dos casos, eles não sorriem. No entanto, apresentam um ar meio distante e deixam transparecer algo a mais em seus olhares profundos.  


Exemplo: Albrecht Dürer

Vincent van Gogh e outros pintores importantes




Nascido na Holanda, em 1853, teve uma vida bastante atribulada. Conheceu de perto o frio, a fome e a miséria, e em vida vendeu apenas uma pintura. Sua genialidade foi reconhecida somente após a sua morte, e hoje os seus quadros estão entre os mais caros do mundo. 

Van Gogh foi sustentado por seu irmão Theodorus (Theo), e as correspondências que o artista lhe enviou tornaram-se importantes documentos sobre a sua vida. Van Goghpintou mais de 30 autorretratos entre os anos 1886 e 1889. Morreu na França, em 1890.


Conheça mais a vida e a obra de Van Gogh. Faça uma viagem em 3D ao museu.

Veja outros artistas que pintaram autorretratos:

Rembrandt 1640 










Pablo Picasso
 1907





Leonardo Da Vinci (aproximadamente entre 1512 e 1515)






Outras formas de autorretrato

A música Autorretrato, de Kleiton e Kledir, nos faz entender um pouco mais sobre essa forma de mostrar a si mesmo.


Autorretrato        

Kleiton e Kledir
Composição: Kleiton Ramil & Kledir Ramil

- Já nasci estressado
Com 2 kgs e 100
- E eu, careca e pelado
Meio magro também
- Não peguei catapora
- Não fui me batizar
- Vixe Nossa Senhora
- Salve Oxalá!
- Fui criado na rua
Tenho meus pés no chão
- Sou do mundo da lua
Troco os pés pelas mãos
- Tenho medo do escuro
- E eu de andar de avião
- Sou de Porto Seguro
- E eu de Jaguarão

Coisa boa é um amigo
Pra poder se encontrar
E jogar conversa fora
Tu me ensina a viver
Que eu te ensino a sonhar
E por aí vamos embora
Veja aqui a letra completa


Você reparou que na letra da música existe não apenas características físicas, mas também comportamentais, como medo do escuro e de viajar de avião?



Heitor Villa-Lobos

As músicas e os poemas também são formas de descrição. Veja o exemplo de uma música de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que recebeu um poema de Ferreira Gullar e foi gravada por vários cantores.



Villa-Lobos teve suas primeiras aulas de música com seu pai e,ainda vivo, foi considerado o maior compositor das Américas.

A seguir, ouça 
Trenzinho caipira, de Heitor Villa Lobos. 




Essa música é parte da composição de Villa-Lobos, denominada Bachianas Brasileiras nº 2. A música lembra o movimento de uma locomotiva.

Depois de conhecer as músicas de Villa-Lobos, o poeta Ferreira Gullar se encantou com a peça Bachianas nº 2 e, em um relato ao jornal Folha de
 São Paulo, em 6 de dezembro de 2009, contou como tudo aconteceu, até ocorrer a primeira gravação de Trenzinho caipira, já com o seu poema.

Durante os anos que vivi em São Luís, não me lembro de ter ouvido alguma música de Villa-Lobos. Dos 18 aos 20 anos, fui locutor da Rádio Timbira que, senão (sic) me equivoco, raramente transmitia programas de música erudita. Lembro-me de programas de música popular brasileira, de música latino-americana (especialmente boleros) e de música norte-americana, que nos chegava sobretudo através dos musicais da Broadway.

Foi Thereza, minha falecida companheira, quem me revelou a música de Villa-Lobos, depois que nos casamos e passei a ouvir os discos que vieram com ela para nossa casa. Ela era apaixonada pela música dele, que cantava no coro da escola pública onde estudara. Carioca da Tijuca, pertenceu à geração que aprendera a cantar "O Canto do Pagé", em grandes comemorações oficiais no Campo do Vasco da Gama.

"Ó manhã de sol, Anhangá fugiu." Sei é que, certa tarde, sozinho no apartamento (na antiga rua Montenegro, hoje Vinícius de Moraes, em Ipanema), pus na vitrola um disco com as "Bachianas" e ouvi, pela primeira vez, a do trenzinho do caipira.

Entrei em transe. É que, quando menino, meu pai, que fazia comércio ambulante, me levava nas viagens de trem entre São Luís e Teresina. O trem saía de madrugada e, ao amanhecer, cortava o Campo dos Perizes, um vasto pantanal, povoado de garças, marrecos, nhambus, pássaros de todo tamanho e cor. Eu ficava deslumbrado, a cada viagem. Deslumbramento esse que voltou quando ouvi a "Tocata", da "Bachiana nº 2". Tive o ímpeto, naquele instante, de pôr letra na música, mas não consegui. E não tentei uma vez só, não, mas várias, ao longo dos anos, sem resultado.



Pois bem, em 1975, ao escrever o "Poema Sujo", em Buenos Aires, evoco aquelas viagens que fazia com meu pai e, então, enquanto, antesera a música de Villa-Lobos que me fazia lembrar das viagens, agora elas é que me fizeram lembrar da "Bachiana n º 2" e, assim, a letra que não conseguira escrever em 20 anos, escrevi em 20 minutos:

Lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar..."

Não escrevi essa letra pensando que ela um dia seria gravada;escrevia-a porque aquela reversão da lembrança foi um fator a mais de emoção, um choque mágico, que se incorporava ao poema. Por isso, pus ali uma indicação meio irônica: "Para ser cantada com a "Bachiana nº 2", "Tocata'". Mas surgiu alguém que levou a sério a indicação.

O poema foi publicado em 1976, pela editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, e lançado numa noite de autógrafo sem o autor. Um ano depois, volto para o Brasil e sou procurado por Edu Lobo, que queria gravar o "Trenzinho do Caipira", com minha letra. Encontramo-nos na Leiteria Mineira, que era ali na rua São José, no centro do Rio, perto da sucursal do "Estadão", onde eu trabalhava. Ele fez o arranjo e gravou o "Trenzinho", que passou a tocar muito no rádio e, verdade seja dita, contribuiu para popularizar a "Bachiana nº 2", talvez a que mais se ouve atualmente. É que a letra facilita a comunicação com as pessoas pouco habituadas a ouvir música instrumental. O mérito não é meu, claro, mas dessa obra-prima que ele compôs, acrescida, então, da interpretação de Edu.

Mas, na hora de obter a autorização para gravar a música com minha letra, Edu se deparou com um problema: a viúva do maestro alegou que adotara como norma não dividir o direito autoral com quem pusesse letra em música de Villa-Lobos. O que me pareceu razoável, já que muita gente poderia valer-se da fama do compositor para pôr qualquer letra em suas músicas e ganhar dinheiro com isso. Não foi o meu caso, como narrei aqui. De qualquer modo, isso não impediu que Edu gravasse a música. Aliás, para que eu não ficasse sem nada ganhar, ele generosamente me fez parceiro de uma das músicas, que era de sua exclusiva autoria. Aquela restrição valeu para o disco apenas, porque toda vez que o"Trenzinho" toca no rádio ou é cantado num show, recebo direito autoral. E, por ironia do destino, já aconteceu me pagarem quando tocaram a "Bachiana", sem a letra. Como se vê, a confusão é geral.

Por falar em confusão, aproveito a oportunidade para desfazer um equívoco, que se tornou frequente, com respeito a essa letra. Em vez de "correndo pelas serras do luar", como escrevi, põem "correndo pelas serras ao luar". É o lugar-comum desbancando a poesia. Num site do Villa-Lobos, insistem no erro. Isso lembra um poema meu em que escrevi: "cantando, o galo é sem morte". Um tradutor pôs: "cantando el gallo és imortal". Pensei: é que deve ter entrado para a Academia.

Fonte: FERREIRA, Gullar. Trenzinho do caipira. Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada. São Paulo, 06 de dezembro de 2009. Disponível em: 


No vídeo a seguir, uma dessas gravações, a adaptação de Adriana Partimpim para a música de Heitor Villa-Lobos com o poema de Ferreira GullarVeja:




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