A filosofia renascentista e o nascimento da modernidade – Parte 1 – Os choques com a Igreja





Bruno, Galileu

A inspiração clássica

O humanismo

Uma nova proposta filosófica

As grandes inovações
            
Entende-se por Renascimento o período compreendido pelos séculos XIV-XV-XVI, os anos de trecento, quatrocento e quinquecento, conforme afirma o ponto de vista italiano, berço da Renassaince. Como é notório, os renascentistas posicionavam-se à frente do seu tempo, responsáveis por resgatar a cultura, que estaria morta durante a Idade Média, considerada “uma longa noite de mil anos”, ou ainda “Idade das Trevas”. A crítica ao medievalismo está no total controle da Igreja sobre as ações humanas, a interferência do poder espiritual no temporal, na Era das guerras, no belicismo e na religiosidade que destruíram o desenvolvimento cultural. Conforme afirmou o colega Jostein Gaarder, no seu Best-seller “O Mundo de Sofia”, a Idade Média compreende “os longos e inacabáveis anos escolares da infância”.
            Ainda como Gaarder, a chegada ao Renascimento corresponde à comemoração do aniversário de 15 anos, as novas descobertas, é a puberdade. Deixando as metáforas de lado, o Renascimento italiano visava recriar a cultura ocidental, dominada pelo cristianismo até então. Para isso, inspirou-se no classicismo, na cultura Greco-romana. Deu a razão um poder sobrevalorizado que marcará a Modernidade. De acordo com Martins, Santiago e Oliva (2011, p. 9), este período foi marcado pela “consciência de inovar; e uma das inovações mais radicais é que, com a modernidade, o homem e a razão assumem-se como capazes de conhecer o mundo de forma autônoma, sem o intermédio da palavra divina e sem o recurso à autoridade da revelação”. A partir dessa perspectiva, os assuntos relacionados à religião, política e sociedade foram respondidos através do uso da razão e da reflexão sobre a experiência, e não meramente por uma consulta a qualquer autoridade espiritual, como a Igreja/papa.
            Ainda de acordo com os autores acima, o Renascimento proporcionou “contudo, lugar ao homem moderno, que, submetido à razão, como sujeito da ciência, coloca-se no lugar de Deus, podendo manipular a natureza de sua época”. Dessa forma, este contexto recoloca o homem no centro do Universo, dando ao seu antropocentrismo e individualismo caracteres únicos para a promoção de um indivíduo racional, autônomo, avesso à submissão à autoridade religiosa.
            Resgatar a Antiguidade Clássica foi acompanhado, é claro, da releitura dos textos daquela época e também de uma inspiração artística que remontasse ao classicismo, seja na arquitetura ou nas artes plásticas. O que se conhece por humanismo renascentista é virtualmente sinônimo de Renascimento. De acordo com LITTLE (2010, p. 26):
“o termo ‘humanista’ foi usado pela primeira vez no século XIV para se referir aos professores das artes liberais romanas (geometria, gramática, poesia, retórica e filosofia moral). Aos poucos veio a ser usado para qualquer pessoa instruída com sério interesse no mundo clássico e no valor das emoções e relações humanas. (...) o Humanismo renovou a visão dos artistas como ‘grandes homens’, que poderiam desempenhar papel importante na descoberta do passado clássico e da natureza humana. (...) Ao enfatizar a importância da razão e da investigação racional, o Humanismo desafiou a dominação da teologia, com sua elevação do divino e submissão do terreno como pecaminoso e corrupto. Os artistas começaram a representar a santidade em pessoas comuns: depois de séculos de esplendor como rainha dos céus, a Virgem foi retratada como humilde”.
           
Percebe-se, então, que o humanismo valeu-se mais das explicações terrenas às divinas, concedendo ao homem o poder de compreender as suas dimensões de maneira a explicar a sua vida de um ponto de vista racional e não religioso. Não é por acaso que o Renascimento coincide com o momento da Reforma Protestante, do segundo grande Cisma da Igreja Católica, que fragmentou o seu poder ao proporcionar o surgimento de outras religiões, como o luteranismo, anglicanismo, calvinismo, etc; além de promover a tradução e o livre-exame da Bíblia e a salvação pela fé.
Por Vladimir Miguel Rodrigues

EXERCÍCIOS

1.       A) Cite e explique ao menos duas características do Renascimento.
b) Identifique três grandes nomes deste período.

  1. UNICAMP. Esta longa Idade Média é o contrário do hiato visto pelos humanistas do Renascimento e, salvo raras exceções, pelos homens das Luzes. É o momento da criação da sociedade moderna, do essencial das nossas estruturas sociais e mentais; momento em que se criou a cidade, a universidade, o moinho, a máquina, a hora e o relógio, o livro , o garfo, o vestuário, a pessoa, a consciência. (Adaptado de Jacques Lê Goff, “Prefácio”, Para um novo conceito de Idade Média : Tempo, Trabalho e Cultura no Ocidente. Lisboa, Editorial Estampa, 1979, p. 12.)
a)       A que conceito de Idade Média o texto está se contrapondo?
b)      ) Qual o período histórico valorizado pelos humanistas do Renascimento? Por quê?
c)       c) Caracterize a atividade que impulsionou o desenvolvimento das cidades medievais.APRENDENDO MAIS
3.       Em Roma, no século XV, destruíram-se muitos e belos monumentos, sem que as autoridades ou os mecenas se lembrassem de os restaurar. No melhor período desse “regresso ao antigo”, ocorrido durante o Renascimento italiano, não se restaura nenhuma ruína, e toda a gente continua a explorar templos, teatros e anfiteatros, como se fossem pedreiras.
(Adaptado de Jacques Heers. Idade Média: uma impostura. Porto: Edições Asa. 1994, p. 111.
Sobre as principais características filosóficas do Renascimento, assinale a alternativa correta.

a)      Teocentrismo, heliocentrismo e humanismo.
b)      Antropocentrismo, humanismo e heliocentrismo.
c)       Antropocentrismo, geocentrismo e racionalismo.
d)      Teocentrismo, geocentrismo e resgate do clero.
e)       Antropocentrismo, incentivo ao papado, racionalismo.

  1. UEL. O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e científico, expandiu-se da Península Itálica por quase toda a Europa, provocando transformações na sociedade. Sobre o tema, é correto afirmar:
a) O racionalismo renascentista reforçou o princípio da autoridade da ciência teológica e da tradição medieval.
b) Houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ideais medievais ligados aos dogmas do catolicismo, sobretudo da concepção teocêntrica de mundo.
c) Nesse período, reafirmou-se a idéia de homem cidadão, que terminou por enfraquecer os sentimentos de identidade nacional e cultural, os quais contribuíram para o fim das monarquias absolutas.
d) O humanismo pregou a determinação das ações humanas pelo divino e negou que o homem tivesse a capacidade de agir sobre o mundo, transformando-o de acordo com sua vontade e interesse.
e) Os estudiosos do período buscaram apoio na observação, no método experimental e na reflexão racional, valorizando a natureza e o ser humano.

  1. PUC. Outras coisas que viu, mui numerosas, Pedem tempo que o verso meu não dura, Pois lá encontrou, guardadas e copiosas, Mil coisas de que andamos à procura. Só de loucura não viu muito ou pouco Que ela não sai de nosso mundo louco. Mostrou-se-lhe também o que era seu, O tempo e as muitas obras que perdia, (...) Viu mais o que ninguém suplica ao céu, Pois todos cremos tê-lo em demasia: Digo o siso, montanha ali mais alta Que as erguidas do mais que aqui nos falta. ARIOSTO, Ludovico. Orlando Furioso. São Paulo: Atelier, 2002. p. 261. O trecho acima, de um livro de 1516, narra parte de uma viagem imaginária à Lua. Lá, o personagem encontra o que não há na Terra e não encontra o que aqui há em excesso. Pode-se identificar o caráter humanista do texto na
a) certeza, de origem cristã, de que a reza ( suplicar ao céu) é a única forma de se obter o que se busca.
b) constatação da pouca razão ( siso) e da grande loucura existente entre os homens.
c) aceitação da limitada capacidade humana de fazer poesia ( o verso meu não dura).
d) percepção do desleixo e da indiferença humanos ( o tempo e as muitas obras que perdia).
e) ambição dos homens em sua busca de bens ( Mil coisas de que andamos à procura).
6. O texto foi extraído da peça Tróilo e Créssida de William Shakespeare, escrita, provavelmente, em 1601. “Os próprios céus, os planetas, e este centro reconhecem graus, prioridade, classe, constância, marcha, distância, estação, forma, função e regularidade, sempre iguais; eis porque o glorioso astro Sol está em nobre eminência entronizado e centralizado no meio dos outros, e o seu olhar benfazejo corrige os maus aspectos dos planetas malfazejos, e, qual rei que comanda, ordena sem entraves aos bons e aos maus.” (personagem Ulysses, Ato I, cena III). SHAKESPEARE, W. Tróilo e Créssida. Porto: Lello & Irmão, 1948. A descrição feita pelo dramaturgo renascentista inglês se aproxima da teoria
a) geocêntrica do grego Claudius Ptolomeu.
b) da reflexão da luz do árabe Alhazen.
c) heliocêntrica do polonês Nicolau Copérnico.
d) da rotação terrestre do italiano Galileu Galilei.
e) da gravitação universal do inglês Isaac Newton.
GABARITO
1 SALA 2 SALA 3B 4E 5B 6C

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